18.4.23

Lula da Silva e a democracia

 


«Se o necessário respeito institucional pela figura do chefe de Estado de um país com o qual Portugal tem relações tão próximas como o Brasil ficou garantido pelo acordo obtido no Parlamento para uma sessão solene paralela a decorrer antes das comemorações do 25 de Abril, a associação da vinda de Lula da Silva a uma data tão simbólica está longe de ter terminado o seu desfiar de polémicas e desencontros.

Para os muitos que acham que a vitória de Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro é o epítome da vitória da democracia sobre as tentações autoritárias, a associação era natural, mesmo que o rasto de corrupção dos seus mandatos anteriores aconselhe algum cuidado. Esses mesmos, no Brasil e em Portugal, só podem estar agora profundamente desiludidos com as declarações do Presidente brasileiro sobre a invasão da Ucrânia, equiparando agredido a agressor, culpando a União Europeia, a NATO e os EUA por estimularem o conflito, e desenrolando o mantra infantil de que a paz é possível se evocarmos muitas vezes a palavra.

Olhando para a história do Brasil e da América Latina, até há boas justificações para que Lula defenda uma “governança global” que diminua a hegemonia dos EUA e inclua a voz de muitos outros países. Mas não haja muitas ilusões de que, ao sublinhar que Brasil e China partilham interesses comuns na construção de uma “nova geopolítica”, o Presidente brasileiro opta por tentar substituir um sistema com defeitos por outro muito pior.

As declarações e a visita de Lula da Silva à China inscrevem-se na sua vontade de reconquistar um papel para o Brasil na cena internacional de que se retirou durante o mandato de Bolsonaro. Fá-lo retomando o sonho de crescimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sem tirar qualquer ilação do facto de ter como companhia dois países onde o carácter ditatorial dos seus regimes se tem consolidado e uma democracia que dá perturbantes sinais de caminhar para lá. E fá-lo apesar de poder entender que, com o passar dos anos, o crescente poder da China tenderá a transformar organizações como estas em organismos que mais não serão do que a corrente de transmissão do mais forte. A China ser o principal parceiro comercial do Brasil não deve ser grande incentivo para levar para fora de portas o grito de “democracia sempre”, que soltou na sua tomada de posse.

Para quem quer celebrar a mensagem do 25 de Abril, não pode haver dúvidas de que o Brasil é um excelente convidado, mas um confesso aliado de Xi Jinping ou de Vladimir Putin, nem por isso.»

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2 comments:

Ed disse...

A classe mediática portuguesa é de um provincialismo que dá vergonha, desejo ao Lula muito sucesso em traçar um caminho de saída para a guerra na ucrânia.

Niet disse...

As acusacöes reiteradas pela direita e extrema-direita lusitana contra a probidade moral de Lula säo falsas porque foram alvo de reparacäo e rasura judicial em finais de 2019 pelo Supremo Tribunal de Justica brasileiro. O "mensaläo" e o "Lava-Jato" foram altas manipulacöes financeiras que envolveram o staff principal da presidência de Dilma depois dos dois consulados de Lula que, com uma estratégia de " polvo " que aliou as dieccöes dos partidos de Direita que se tinham coligado a PR sucessora de Lula, por acaso hoje recém-nomeada governadora do BRICS, e os altos quadros corrompidos dos conglomerados industriais da Oldbrecht e Petrobras tentando derrubar a sucessora de Lula e impedirem a reeleicäo do fundador do PT.A mediocridade da classe politica portuguesa é täo grande que desconhece a verdade crucial dessa tragédia que culminou com a prisäo de Lula por mais de um ano e meio por uma falsa acusacäo de compra de um apartamento.Bolsonaro e o Juiz Moro comecaram a unir-se para o assalto ao poder depois da queda de Dilma e Temer beneficiando de um pico da popularidade da Direita e faixas extremistas aderentes...Bolsonaro foi eleito dois anos depois PR, nomeou Moro para a Justica e comecou a comprar com dinheiro vivo um vastissimo património imobiliário de mais de 50 apartamentos nas zonas chic do Rio de Janeiro, virando-se o feitico contra os feiticeiros sedentos de sangue e vinganca. Niet