«Uma das coisas mais engraçadas do envelhecimento é a maneira como também envelhecem as nossas definições de quem é novo e de quem é velho.
De repente, toda a gente é nova. Isso ainda vá que não vá. O pior são os velhos: os velhos tornam-se muito, muito velhos.
A razão é muito simples: porque têm de ser mais velhos do que nós e, sejamos francos, as pessoas mais velhas do que nós são cada vez mais difíceis de encontrar. Até porque a grande maioria está escondida no cemitério e não aparece nem por mais uma.
Já aqueles que hoje achamos jovens vão-se multiplicando a um ritmo aterrador. Os meus pais gozavam comigo porque, quando eu tinha 11 anos, pintei um cartaz com as palavras “Nunca confies em quem tem mais de 25 anos”.
Obrigavam-me a explicar, noite após noite, para gáudio dos visados, que a partir dos 21 anos ainda havia quatro aninhos em que ainda tinham princípios e ideais, mas que, a partir daí, o “sistema” já tinha corrompido os miolos de toda a gente.
Só quando cheguei aos 25 anos é que percebi o disparate que tinha escrito: ainda era tão novo! Mas, mesmo assim, já havia polícias mais novos do que eu, a tratar-me por “senhor” e a preparar-me, diplomaticamente, para o que estava para vir.
Agora, acho graça aos putos com 40 anos que acham que estão muito doentes porque ficam maldispostos quando comem ou bebem, ou dormem pouco.
Vão fazer análises e descobrem que estão finos. Na verdade, o que aconteceu é que já não podem fazer as asneiras que faziam quando eram novos. Ou seja, podem, mas agora pagam. A única diferença é que o organismo deixou de dar borlas.
Para se sentirem bem, não precisam de tomar remédios: basta terem juízo.
Oh afortunada juventude
É também com essa idade que se começam a irritar com as palavras que inevitavelmente ouvem da boca dos médicos: “Isso é normal para a sua idade.”
“Para a minha idade?”, respondem abespinhadamente, “mas eu não sou velho!”
Ah não? Só os velhos é que falam assim.»
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