17.5.23

E se cada cidadão fosse um banco?

 


«Quando as notícias são más, o castigo ao cidadão é quase imediato. Se houver recessão económica, perde o emprego e o salário. Se houver inflação, perde rendimento, porque o mesmo número de notas compra menos bens e serviços.

Se subirem as taxas de juro, paga mais pelo empréstimo que fez ao banco para pagar a casa. Se houver subida do preço do barril de petróleo, o litro de gasolina ou gasóleo aumenta de imediato. Se houver uma crise de dívida pública, aumentam-lhe os impostos ou congelam-lhe a pensão.

A velocidade não é a mesma quando as notícias são boas. Tudo anda muito devagar. E nunca chega para cobrir as perdas acumuladas nas más notícias. Quando o crescimento regressa, o novo emprego tem pior salário que o anterior. Quando a inflação começa a abrandar, os preços não voltam ao nível anterior. Quando as taxas de juro descem, já se pagaram milhares de euros a mais, que ninguém devolve. Se o preço do petróleo desce, o litro de gasolina ou gasóleo pouco mexe, porque entram em campo os custos de refinação, de transportes, ou de seja o que for. E quando acaba a crise de dívida pública, talvez se descongelem as pensões, mas, reduzir o IRS na mesma proporção do que se aumentou, isso não, que é preciso acautelar as contas públicas.

Quando, finalmente, depois de muito tempo com boas notícias, se adivinha poderá haver, finalmente, benefício para o cidadão, bate à porta outra crise, sempre com os mesmos efeitos das anteriores, seja a origem um vírus, a ganância do sistema financeiro, o desgoverno dos atores políticos, a globalização, a chuva em excesso ou a seca, ou outra razão qualquer, que sempre se arranja uma.

É uma pena que cada cidadão não se possa transformar num banco. Nos tempos difíceis, se fosse à falência, lá estaria o Estado para pagar aos credores (ainda que à custa dos outros cidadãos). Se o custo do dinheiro ficasse demasiado alto, teria o Banco Central Europeu para o financiar a taxa zero. E, quando chegassem os tempos de bonança, era lucro certo. Não acredita? Se os 954 milhões de euros de lucro dos seis maiores bancos, nos primeiros três meses deste ano, fossem distribuídos por dez milhões de cidadãos, dava 95 euros a cada um. Já depois das despesas familiares estarem todas pagas.»

.

0 comments: