18.5.23

Galamba não deu dois socos em Frederico, mas esmurra Costa até ao KO

 


«Estamos perante um grave problema de regime e de Estado de direito. A audição de Frederico Pinheiro na Comissão de Inquérito à TAP mostra um governo num frenesim selvagem, que manda o SIS telefonar a um cidadão à noite – que, até horas antes, era um “leal servidor” do Estado – e o SIS, invocando “ordens de cima”, pede-lhe o computador de trabalho, para isto ir “a bem”. Não há precedentes de um episódio destes nos anais da política nacional em democracia.

Quem assistiu esta quarta-feira à corajosa audição de Frederico Pinheiro, o ex-adjunto monstrificado nos últimos dias como “agressor de mulheres”, “doido”, “passado” e “ladrão” – pelas altas instâncias do Estado, incluindo o primeiro-ministro –, fica com uma ideia de que podemos, de facto, estar entregues a um grupo de pessoas que tomou o poder e usa-o sem freio.

Em qualquer governo do passado, esta situação levaria à demissão do ministro das Infra-Estruturas, como recomendou o Presidente da República. Misteriosamente, por razões fúteis, António Costa preferiu manter o ministro que ameaçou o adjunto “com dois socos”. Um dos mistérios da política será por que diabo o primeiro-ministro resolveu fechar-se numa espécie de ringue de boxe com João Galamba e pôr-se a jeito de todos os murros e destruição institucional que o ainda ministro é capaz de fazer, até deixar Costa KO. A menos que seja mesmo desejo de Costa ficar KO em Portugal para poder retirar-se e preparar uma carreira europeia – não há mais nenhuma lógica que explique a sua união de facto com essa arma de (auto)destruição maciça que é João Galamba.

Como é que um homem que trabalhou em três governos de António Costa é sequestrado no Ministério das Infra-Estruturas, impedido de levar o computador de serviço e tem de chamar a PSP para o libertar? E porque é que as quatro assessoras do ministério que se queixaram de terem sido agredidas pelo ex-adjunto não aproveitaram a presença da polícia para apresentarem queixa? Pelos vistos, segundo a audição da chefe de gabinete, não perceberam que a polícia estava no ministério.

Depois, há o telemóvel que lhe foi atribuído em serviço – “não era dele”, logo podia ser “revistado” e as mensagens apagadas. A chefe de gabinete disse na noite desta quarta-feira: “Sou eu que pago as facturas.” Não, dra., somos nós todos. A frase é um programa revelador dos socos que João Galamba e os seus colaboradores estão a dar no regime.

Aparentemente, o grande pecado de Frederico Pinheiro foi não aceitar mentir, caso fosse chamado à comissão parlamentar de inquérito. João Galamba já tinha mentido e tencionava continuar a mentir.

Já tinha mentido, quando tinha dito que a CEO da TAP tinha participado na reunião preparatória com os deputados do PS, de 17 de Janeiro, por sua iniciativa – quando já se tinha percebido que afinal tinha havido uma reunião na véspera, em que o próprio Galamba desafiou a ex-CEO da TAP a participar.

Se uma situação destas se passasse com Pedro Santana Lopes ou Pedro Passos Coelho, o regime vinha abaixo. Têm muitos elementos da sociedade civil portuguesa dois pesos e duas medidas? É provável que sim. O sequestro, as agressões, a chamada do SIS, o contacto intimidatório do agente do SIS perante o homem a quem o Governo confiou dossiers importantes desde 2017, não é revelador do regular funcionamento das instituições. Se o bom senso abandonou António Costa para se amarrar a toda esta situação espúria, é porque alguma coisa não anda bem. Ou, como diz o socialista Sérgio Sousa Pinto, Costa quer mesmo eleições já.»

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