«A melhor maneira de avaliar uma sociedade, por muito faustosa e iluminada que pareça à superfície, é através da maneira como trata os velhos.
E os imigrantes. E os animais. Mas os velhos são mais importantes, porque só as pessoas com azar é que se livram de ser velhas.
Tratar bem os órfãos e as crianças em geral é um investimento: são futuros trabalhadores e pagadores de impostos.
Mas os velhos pagam poucos impostos: dão mais despesa do que custam. Não são um investimento: por definição, são um prejuízo que aumenta com cada ano que sobrevivem. Se amanhã morressem todos de repente, os países ficariam automaticamente mais ricos.
O dinheiro que custam em cuidados de saúde, por exemplo, aumenta muito nos últimos anos de vida. Do ponto de vista frio, racional e desumano, é dinheiro desperdiçado.
É por isso que a maneira como se trata os velhos diz tudo sobre uma sociedade: porque mostra o comportamento moral e logo humano dessa sociedade.
Mostra a gratidão perante vidas passadas a trabalhar e a contribuir, nem sempre com dinheiro, mas com contributos ainda mais úteis e investidores.
Mostra a inteligência, porque ninguém se livra de ser velho, e faz sentido que os últimos anos de vida, em que finalmente há tempo para nos divertirmos, sejam os mais despreocupados e aprazíveis.
Até pode ser motivador, para os contribuintes mais novos, ver que a vida que os espera é boa e cheia de oportunidades.
A verdade é que nenhuma sociedade trata realmente bem os velhos, porque pensam erradamente que é o contrário do culto de juventude que apaixona e embebeda as sociedades modernas.
Acham que pensar na velhice é como pensar na morte: é deprimente porque é garantida, e é deprimente porque é uma queda de qualidade de vida.
Mas o contrário da morte não é a juventude e o equivalente da morte não é a velhice. Tanto a juventude como a velhice são o contrário da morte.
Porque o contrário da morte é a vida.
E é a vida que se deve celebrar.»
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