«Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo perceber a utilidade estratégica de António Costa ter decidido unir o seu destino político ao de João Galamba. Vindo do imperador da "táctica", a decisão parece abstrusa e um espalhanço ao comprido numa poça cheia de muito mais do que água.
Para fazer frente ao Presidente da República, era preciso isto? O que ganha António Costa quando perde o indiscutível aliado de sete anos? Ainda por cima, o primeiro-ministro poderia ter decidido afrontar o Presidente por uma razão de Estado. Não: fê-lo porque "em consciência" acreditou numa versão bizarra do seu ministro das Infra-estruturas de um "roubo" que afinal não era "roubo", segundo o Conselho de Fiscalização do SIS, que, de resto, apresenta contradições em relação à versão enunciada pelo próprio SIS.
A verdade é que o ministro já não é ministro, por muito que ainda ache ter "imensas condições" e que tenha a bênção de um primeiro-ministro que optou por unir o próprio destino ao seu.
Por muitos panegíricos que tenham sido feitos ao "táctico" Costa, é muito provável que tenha sido este o momento mais deprimente do seu mandato como primeiro-ministro, alienando o Presidente da República em nome de uma trapalhada sem fim e de contornos suspeitos.
É inqualificável o que se passou esta semana, com o Conselho de Fiscalização do SIS a anunciar que a operação foi legal, mas sem explicitar por que é que era legal… e afinal o roubo do computador (palavra usada pelo primeiro-ministro) afinal já não era roubo.
É inaceitável um pedido de intervenção do SIS num caso rocambolesco, mostrando que o Governo está entregue a pós-adolescentes, que acham que podem usar o Estado como se fosse a varanda lá de casa.
As audições da Comissão de Inquérito à TAP da semana que vem – do ministro João Galamba, do ex-assessor Frederico Pinheiro e da chefe de gabinete – prometem afundar ainda mais o Governo e o primeiro-ministro, amarrado a uma história sem pés nem cabeça, enquanto a crise de confiança nas instituições se vai degradando para favorecer quem nós sabemos.
Costa podia estar irritado com Marcelo. É verdade que o Presidente fartava-se de falar em dissolução e, mesmo que fosse para a negar, dava a ideia de que estava a preparar os portugueses para o uso da chamada "bomba atómica".
Mas havia outras formas de mostrar descontentamento sem chegar aqui. No tempo em que o Presidente Soares moía o juízo ao Governo Cavaco, lembro-me da guerra que o PSD (com Pacheco Pereira à cabeça) moveu ao Presidente por, na altura, estar a prejudicar, na óptica cavaquista, a intervenção do Governo. Quem estava na frente da batalha anti-Presidente Mário Soares era o PSD. Cavaco Silva, o primeiro-ministro, nunca se pôs nessa posição, exceptuando no dia em que pronunciou aquela frase indigna – "Temos que ajudar o senhor Presidente a acabar o mandato com dignidade".
Quando Mário Soares promoveu o Congresso "Portugal que Futuro" – talvez a maior acção de combate ao Governo que algum Presidente civil fez –, Cavaco Silva comentou placidamente que iria passar o fim-de-semana no Pulo do Lobo.
Mais tarde ou mais cedo, Costa vai perceber que fez um erro tremendo. E como não irá querer pôr o sucesso eleitoral do PS nas mãos de João Galamba, irá tomar a decisão que se impõe. Enquanto isto, assistimos à continuação em funções do ministro que chama o SIS – mas em óbvio estado de coma.»
Ana Sá Lopes
Newsletter do Público, 12.05.2023 (excerto)
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2 comments:
"Temos que ajudar o senhor Presidente a acabar o mandato com dignidade".
A frase mais nojenta que eu ouvi em toda a minha vida!
A Trumpocene, um conceito posto a circular há dias nos campus Uni. de Harvard e Berkeley, tem
que imprescindivelmente ser desenvolvido e accionado como instrumento de luta capital contra
as tentativas-extremistas radicai da extrema-direita americana nos USA e os seus sucedaneos na Europa. A insidiosa e furtiva infiltracäo dos partidos neo-nazis de Marine Le Pen e da histriónica PM italiana Meloni nos Aparelhos de Estado dos respectivos paises atingiu uma extravagância e descaramento inaudito nos ultimos dias.Dois tesoureiros da herdeira do kapo LE Pen foram desmascarados numa manif. em Paris de evocacäo do GUD,grupusculo criado para irradiar manu militari os ultimos redutos de contestacäo de Maio 68 e que com outros émulos espalharam o terror nas ruas e universidades em conluio com as " oficinas " do crime politico que ajudaram
De Gaulle a restaurar o poder da burguesia que se perpetuou até à vitoria de Miterrand em 1981.
Meloni recebeu ontem Zelensky em Roma e ao mesmo tempo sugeriu sem pejo como prémio que Ursula
Von Leyen acelerasse o envio dos biioes do PRR italiano para a gestäo transalpina. Niet
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