23.6.23

E se o submarino transportasse refugiados?

 


«O espaço mediático do submersível desaparecido junto aos destroços do Titanic, com cinco pessoas a bordo, remete-nos para uma espécie de banalização das tragédias. Inconsciente, mas reveladora de alguma insensibilidade para o drama daqueles que há anos, dia após dia, enfrentam a escolha entre a miséria e a guerra.

É natural que o resgate dos ocupantes do submarino mereça toda a atenção, tal como aconteceu, por exemplo, com a saga dos 33 chilenos que ficaram presos numa mina em San José, e que foram salvos após 69 dias. Ou, mais recente, a história de Rayan, o menino marroquino de cinco anos que esteve preso num poço com 32 metros de profundidade, e que acabou por ser resgatado sem vida.

O Mundo acompanhou estes dramas com ansiedade, minuto a minuto, e com expetativa. Os “33”, número que batizou o grupo dos mineiros, ou Rayan são pessoas como nós. Podiam ser nossos pais, irmãos, filhos.

Essa preocupação, atenção, e até carinho, não é a mesma para com aqueles que fazem viagens longas e perigosas para escapar a conflitos armados, violência, pobreza e aos efeitos tenebrosos das alterações climáticas. Aqueles que procuram tão-só o direito a viver. Que encontram no mar Mediterrâneo a sua última morada, o seu cemitério.

O Dia Mundial do Refugiado foi assinalado pelas Nações Unidas na terça-feira. Sem pompa ou circunstância. Entre portas ou fora delas.

Estes cidadãos, com os mesmos direitos do que qualquer um de nós, não abandonam as suas casas à procura de luxo, nem de bons salários, nem de boas habitações, nem de bom tempo. Procuram sobreviver. Como os mineiros, como Rayan, como os ocupantes do submarino perdido.

O tema dos refugiados não se pode tornar spam. Eles não são lixo, mesmo que sejam descartáveis para uma grande parte dos governantes.»

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