24.6.23

Multibancos em linha reta

 


«Não há maternidades, não há estradas, não há serviços públicos, não há escolas, a rede de comunicações é, em muitas latitudes, deficiente, há poucos espetáculos, faltam os fundos e as gentes e, a enlaçar este bouquet, a certeza de que quase metade do país não tem uma caixa multibanco.

O problema não é novo, mas tem vindo a agudizar-se. Um levantamento recente feito pelo Banco de Portugal concluiu que 42% de freguesias não têm acesso a nenhum terminal e que há vários municípios, rurais e urbanos, obrigados a desembolsar centenas de euros por mês para garantir um serviço que devia ser prestado pelos bancos (não há muitos anos, era a Banca que dispensava centenas de euros às freguesias para ter uma caixa).

Para uma fatia considerável da população menos familiarizada com o homebanking, o multibanco continua a servir para efetuar pagamentos essenciais, como a energia e as telecomunicações. O ato de efetuar operações bancárias físicas, e à cabeça a necessidade de ter acesso a dinheiro vivo para cumprir rotinas básicas, como comprar pão, fruta ou o jornal, não devia constituir uma excentricidade.

A Banca, todos o sabemos, não está preocupada com a coesão territorial. Basta, de resto, atentarmos no critério usado para a instalação dos terminais, segundo o qual a distância até ao multibanco deve ser entre 10 e 20 quilómetros em linha reta. Algo que no Alentejo até pode fazer sentido, mas que em Trás-os-Montes ou na serra da Estrela se revela um perfeito absurdo. Em sua defesa, os bancos, que estão a abandonar o território há anos, alegam que Portugal é dos poucos países da Europa onde não se cobra uma taxa de levantamento.

Mas se esse argumento, embora pífio, até possa ser aceitável para muitas instituições, exige-se que a Caixa Geral de Depósitos, como banco do Estado, faça muito mais. Pelas razões óbvias, mas sobretudo porque teve um lucro de 843 milhões de euros. Contribuir para a coesão nacional também é uma forma nobre de distribuir dividendos.»

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