7.6.23

Quem se demite fica, quem não se demite sai

 


«O regresso de uns dos principais personagens do enredo que tem animado os dias da nossa República acabou beneficiado pelo contraste entre uma audição, a de Pedro Nuno Santos, em que foi possível ouvir falar de política, e uma outra, a de Mendonça Mendes, que, mesmo tratando importantes assuntos de Estado, mostrou um executivo incapaz de se conseguir libertar das lógicas caricatas de um episódio com contornos de caso de polícia. É claramente também a diferença moral entre quem assume as suas responsabilidades políticas, se for preciso com uma demissão, e quem não foi capaz de o fazer.

É evidente que, ao terminar com seis meses de silêncio, Pedro Nuno Santos teve o cuidado de deixar os tópicos mais quentes, a sua demissão e a indemnização a Alexandra Reis, para a Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP para se poder concentrar no “orgulho” de ter salvo a companhia aérea e nos lucros que ela e a CP conseguiram em 2022. Como nas boas séries, o regresso de um personagem desaparecido não se faz sem deixar algum do suspense lá mais para frente.

O que se viu foi alguém que, ao contrário do que alguns vaticinaram, não está a contar os dias para o fim da sua carreira política. Não foi só a pose afirmativa, nem a desenvoltura como foi capaz de responder às questões que lhe foram colocadas. Foi a forma como quis defender o seu capital político, nomeadamente o seu posicionamento à esquerda, ao afirmar-se como defensor da privatização da TAP, mas sem nunca revelar o seu modelo, ou seja, deixando espaço para que o Estado ainda possa ser o accionista maioritário. E isto, claro, sem nunca deixar de visar o seu principal adversário, o PSD.

Mas a sua marca de futuro esteve especialmente na maneira como cuidou, em diversos pontos, da sua relação com o primeiro-ministro, ao procurar nunca hostilizar quem ainda pode ter uma influência determinante na sua carreira. Ao contrário de outros, que arrastaram meio Governo para os problemas que criaram, Pedro Nuno Santos exibiu a desenvoltura política de quem tem a autonomia de um caminho próprio.

Num dia em que Mendonça Mendes acabou por vir sublinhar as contradições de João Galamba, o contraste entre a actuação de Pedro Nuno Santos e a do seu sucessor não poderia ser maior, tornando ainda mais frágil a posição do actual ministro das Infra-Estruturas. É caso para dizer que quem se demitiu está para ficar e quem não se demitiu pode estar à beira de sair.»

.

0 comments: