«O regresso de uns dos principais personagens do enredo que tem animado os dias da nossa República acabou beneficiado pelo contraste entre uma audição, a de Pedro Nuno Santos, em que foi possível ouvir falar de política, e uma outra, a de Mendonça Mendes, que, mesmo tratando importantes assuntos de Estado, mostrou um executivo incapaz de se conseguir libertar das lógicas caricatas de um episódio com contornos de caso de polícia. É claramente também a diferença moral entre quem assume as suas responsabilidades políticas, se for preciso com uma demissão, e quem não foi capaz de o fazer.
É evidente que, ao terminar com seis meses de silêncio, Pedro Nuno Santos teve o cuidado de deixar os tópicos mais quentes, a sua demissão e a indemnização a Alexandra Reis, para a Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP para se poder concentrar no “orgulho” de ter salvo a companhia aérea e nos lucros que ela e a CP conseguiram em 2022. Como nas boas séries, o regresso de um personagem desaparecido não se faz sem deixar algum do suspense lá mais para frente.
O que se viu foi alguém que, ao contrário do que alguns vaticinaram, não está a contar os dias para o fim da sua carreira política. Não foi só a pose afirmativa, nem a desenvoltura como foi capaz de responder às questões que lhe foram colocadas. Foi a forma como quis defender o seu capital político, nomeadamente o seu posicionamento à esquerda, ao afirmar-se como defensor da privatização da TAP, mas sem nunca revelar o seu modelo, ou seja, deixando espaço para que o Estado ainda possa ser o accionista maioritário. E isto, claro, sem nunca deixar de visar o seu principal adversário, o PSD.
Mas a sua marca de futuro esteve especialmente na maneira como cuidou, em diversos pontos, da sua relação com o primeiro-ministro, ao procurar nunca hostilizar quem ainda pode ter uma influência determinante na sua carreira. Ao contrário de outros, que arrastaram meio Governo para os problemas que criaram, Pedro Nuno Santos exibiu a desenvoltura política de quem tem a autonomia de um caminho próprio.
Num dia em que Mendonça Mendes acabou por vir sublinhar as contradições de João Galamba, o contraste entre a actuação de Pedro Nuno Santos e a do seu sucessor não poderia ser maior, tornando ainda mais frágil a posição do actual ministro das Infra-Estruturas. É caso para dizer que quem se demitiu está para ficar e quem não se demitiu pode estar à beira de sair.»
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