9.9.23

Costa de ouvidos em Lagarde e a renegociação de créditos - parte II

 


«Não dar o passo maior que a perna. A ideia é muitas vezes vendida pelo Governo para explicar por que razão não vai mais além nos apoios que dá.

Para sustentar esta posição, o executivo lembra-nos de que a redução da dívida pública continua a ser um objectivo de Portugal e que esse esforço tem de ser feito mesmo quando os cofres do Estado mostram um excedente orçamental.

As contas certas - deixando de fora o impacto desta escolha - são hoje defendidas pelo PS e pelo PSD, pelo que o consenso sobre a importância desta causa é mais generalizado.

O problema parece ser quando se transporta o mantra do não dar o passo maior do que a perna para dimensões concretas, como por exemplo a do crédito à habitação. O que sabemos hoje é que há famílias que renegociaram o crédito à habitação uma vez e que já estão a fazer uma segunda tentativa para o fazer, porque as taxas de juro não pararam de subir e os ganhos que tiveram com a renegociação já foram comidos pela escalada do preço do dinheiro.

Nesta matéria, as respostas do executivo têm-se revelado curtas para as necessidades. Lembremo-nos de que há um ano o Governo apresentava no Orçamento a possibilidade de as famílias com crédito à habitação poderem reduzir a taxa de retenção na fonte de IRS. Um alívio de tesouraria que estava longe de responder ao aperto que se seguiu.

O Governo passou para soluções mais robustas, mas veja-se o que aconteceu com duas das principais medidas: as renegociações entre os bancos e os clientes têm encontrado resistências e já se revelam curtas nalguns casos e a medida da bonificação de juros vai ser reforçada agora pelo Governo porque tinha uma abrangência limitada.

Ao não dar o passo maior que a perna, neste particular, António Costa arriscou-se a anunciar medidas que não passaram de paliativos para as necessidades das famílias com crédito à habitação.

O primeiro-ministro já disse que espera pela decisão do Banco Central Europeu sobre juros, agendada para a próxima quinta-feira, para tomar novas medidas. De Frankfurt têm chegado sinais para quem tem empréstimos que não podem descansar: ou as taxas sobem, ou mantêm-se, e certo é que, para já, não descem, esperando-se que permaneçam num patamar elevado por um período longo.

Costa já percebeu que a subida da inflação não era transitória e que ainda pesa na vida das pessoas. Agora, com os ouvidos postos nas palavras de Christine Lagarde, pode desta vez aprovar um fato mais à medida de quem o veste.»

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