Em outubro de 1918, Lisboa não tinha madeira para tantos caixões.
Uma longa descrição impressionante!
«A 5 de outubro, a revolução republicana festejou-se dentro de portas. O Governo de Sidónio Pais proibiu manifestações e quaisquer ajuntamentos, "em atenção ao luto de muitos portugueses", como fez publicar nos jornais, e para evitar a propagação do vírus. Não se fez a tradicional parada militar na Avenida da Liberdade e mesmo a anunciada soirée no Coliseu dos Recreios, a favor da Assistência aos Mutilados da Guerra e com um programa condizente (exibição de filmes propagandísticos sobre a Primeira Guerra Mundial e um concerto da banda da Guarda Nacional Republicana), foi cancelada no dia 4. Em alternativa, Sidónio aceitou que se realizasse uma tourada no Campo Pequeno, à qual assistiu no camarote, a uma distância higiénica. (…)
A 7 de outubro, no dia em que Thomaz de Mello Breyner escreveu no seu diário "vamos a ver se escapo", Espanha fechou as fronteiras e só autorizava a entrada no país àqueles que tivessem certificados sanitários previamente avaliados pelo cônsul espanhol em Lisboa. Ricardo Jorge, diretor-geral da Saúde, não gostou da atitude dos espanhóis, mas não se deteve em rebatê-la, preocupando-se antes em procurar locais de acolhimento para as centenas de doentes que entravam todos os dias nos hospitais. Foram também centenas os que morriam quase diariamente. Num só dia, fizeram-se 250 enterros; descobriram-se famílias inteiras mortas nas suas casas; a Direção-Geral dos Hospitais Civis de Lisboa pediu à câmara para que abrisse uma vala comum no cemitério dos Prazeres.»
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