«O populismo que avança a grande velocidade na Europa não é a Democracia a funcionar, como pretendem convencer-nos os que resumem a Democracia ao direito de votar. No limite, é a Democracia a funcionar mal. De cada vez que o povo de um qualquer país decide dar a vitória a um partido populista, à Esquerda e à Direita, intolerante com a diferença, não respeitador das minorias, é a Democracia desse país que é profundamente afetada, mas é também o projeto europeu que se assemelha cada vez mais àquilo que quer combater.
Um barómetro publicado o mês passado, encomendado pela Open Society Foundations, depois de ouvir mais de 36 mil pessoas de 30 países, muitos dos quais europeus, mostrava que "35% dos inquiridos com idades entre os 18 e os 35 anos consideram que ter um líder forte é uma boa forma de governar um país". Os jovens acreditam cada vez menos na Democracia, (…) 42% dos inquiridos entre as camadas mais jovens consideram que um regime militar é uma boa forma de governar um país.
Um outro estudo, feito pela Universidade de Amesterdão e partilhado com o jornal The Guardian, diz-nos que um terço dos europeus vota em partidos antissistema. O estudo foi conhecido há duas semanas, mas a análise foi realizada em 2022, em 31 países. Nas eleições desse ano, um em cada três votos foram em partidos populistas, da Esquerda e da Direita.
A Europa foi acrescentando populistas, políticos antissistema, que visam quebrar a unidade no apoio às medidas de combate às alterações climáticas ou, como é o caso da vitória do populista de Esquerda Robert Fico na Eslováquia, pôr em causa o apoio à Ucrânia, que o mesmo é dizer pôr em causa o combate pela liberdade.
A independência do poder judicial, a liberdade de imprensa, a defesa dos direitos das minorias são apenas alguns dos parâmetros essenciais para avaliar a saúde da democracia e o que sabemos é que ela tem estado a dar sinais de enorme fragilidade em muitos países da Europa. Não há país que escape a esta onda populista, mas ela tem, por estes dias, um crescimento no centro e norte da Europa que tem tudo para se transformar num tsunami eleitoral nas eleições europeias de junho.
A Europa solidária com os refugiados e necessitada de imigrantes para manter a economia a funcionar é pasto para a Extrema-Direita. A Europa do BCE no combate à inflação, com a necessária subida das taxas de juros, é um bebedouro para a Extrema-Esquerda. A Europa aliada de Kiev, com a ajuda de milhares de milhões no esforço de guerra ucraniano e com as sanções à Rússia a pesarem na perda de poder de compra da maioria da população, é um banquete para a Extrema-Direita e para a Extrema-Esquerda.
Já não é uma questão de ser otimista ou pessimista - a longo prazo tudo se resolve -, mas é inevitável que o ataque ao sistema democrático se intensifique. Há demasiada gente descontente com um sistema que não encontra soluções para os principais problemas e ninguém as convence que as soluções apresentadas pelos extremistas não resolvem coisa nenhuma.
O mundo está mais perigoso. A Europa tem cada vez mais governos populistas, o Parlamento Europeu ficará também mais radical. Há uma probabilidade alta de Trump regressar à presidência dos Estados Unidos. Putin mantém-se firme, à espera que o tempo desgaste as opiniões públicas ocidentais e leve os seus governos a forçarem Zelensky a negociar a paz com perda de território. A Democracia vai passar um mau bocado, até que uma larga maioria das pessoas, já tendo experimentado pau e cenoura, se recorde do que nos ensinou Winston Churchill: "A democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros."»
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