«Um professor em protesto, que decidiu viver numa carrinha para solucionar o problema da habitação, estacionou à porta do Palácio de Belém. O objetivo era denunciar as dificuldades por que muitos professores passam quando são colocados longe de casa. É um protesto justo, concorde-se ou não com a forma, mas todo o fundamento ficou reduzido a nada quando o professor fez saber que o presidente da República lhe pagou, e ele aceitou, uma noite numa pensão onde pôde tomar o seu “banhinho”.
Se não fosse burlesco seria, no mínimo, estranho. Primeiro, Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo enquanto cidadão, deveria evitar essa postura e o próprio professor tinha a obrigação de rejeitar uma ajuda completamente inútil. Por uma questão de princípio.
Assim, caiu por terra todo o fundamento de uma ação que pretendia usar um caso limite para ilustrar as dificuldades de muitos professores.
A tal oferta de uma noite de estadia na pensão da zona é a prova de que o presidente da República ou não percebeu o alcance da questão - e isso é muito improvável - ou acha que, mais do que resolver problemas, é importante aproveitar a oportunidade de se mostrar próximo das pessoas, mesmo que com atos inúteis na sua essência.
Ao aceitar a ajuda, o professor que se manifestava prestou um mau serviço aos colegas, mesmo que alguns que se juntaram ao seu protesto tenham aplaudido a iniciativa individual de Marcelo Rebelo de Sousa.
“O senhor presidente, pago do seu bolso, tomou a iniciativa de alugar-me um quarto, aqui na pensão Setubalense, onde eu posso tomar o meu banhinho e fazer a minha dormida. Posso pernoitar hoje e fico muito agradecido ao senhor presidente.” Com esta frase, conseguiu arruinar todo o capital que possa ter acumulado com o seu caso.
A classe docente deve também pensar na forma como o presidente da República, com uma suposta ação de boa vontade, conseguiu dar uma machadada numa luta cuja origem está longe de ser resolvida.»
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