9.11.23

Centristas do PS: enfrentar ou acomodar Pedro Nuno Santos?

 


«É certo que Pedro Nuno Santos vai avançar para a liderança do Partido Socialista. Tem o trabalho interno feito e a profecia da sua liderança tende a autorrealizar-se. Se é o melhor candidato do PS contra Luís Montenegro é um debate diferente, menos linear do que parece a quem julga que o comportamento do eleitorado segue um compasso ideológico e eleitoral perfeito. Mas não saltemos etapas, que antes disso há as diretas do PS.

Seguindo o que parece ser a lógica – que nem sempre é a melhor conselheira para fazer previsões –, o Presidente da República reservará a dissolução para depois da aprovação do Orçamento de Estado, para não ficarmos meio ano em duodécimos, e marcará as eleições dando tempo ao PS para escolher a nova liderança e haver campanha eleitoral. Parto do princípio que o PSD perdeu a oportunidade de mudar a liderança, mas é partido que nos habituou a surpresas.

A maior incógnita é o que fará a ala centrista do PS, que concentrou boa parte do poder nesta década. Ela tem, neste momento, dois problemas. O primeiro é antigo: falta de protagonista. Fernando Medina, com qualidades políticas, não ganha uma concelhia do PS. Ana Catarina Mendes é vista como uma apparatchik. Mário Centeno nem é militante do PS. Augusto Santos Silva sonha com outros voos e não teria facilidade em ganhar. Marta Temido não conhece o PS, onde entrou há pouquíssimo tempo. Só o vazio lhe daria espaço.

O único que parece viável e que já mostrou disponibilidade é José Luís Carneiro. Sereno, mas apagado, simpático, mas insosso. Tem a vantagem de vir do PS profundo. Terá alguma capacidade de mobilizar o partido. Suficiente para vencer Pedro Nuno Santos? Duvido mesmo muito. Parece-me um nome para queimar e marcar terreno para a oposição interna.

A este problema, junta-se outro: é a ala centrista, perto de Costa, que está mais ferida com este processo. Se querem que seja tema, é um deles que avançará.

A pergunta é se a ala centrista quer correr o risco de medir forças e partir o PS em vésperas de eleições, quando o partido ainda sonha manter o poder, ou prefere apostar no cavalo que já vai à frente? Se Pedro Nuno Santos ganhar o país, o poder fica garantido e isso ainda é o que conta para os socialistas. Se perder, esperam que frite na oposição e só depois arranjam sucessor.

Na realidade, os centristas até têm alguns argumentos. E quanto a isto, nunca tive qualquer ilusão: Pedro Nuno Santos vai correr para o centro. Para vencer a desconfiança de alguns setores perante a imagem de “radical” (ser social-democrata é, hoje, sinal de radicalismo) e impulsivo, precisa do apoio e do empenhamento de centristas do partido. O que lhes dá poder junto do futuro líder. Precisa do apoio simbólico de figuras como Francisco Assis (importante para fora), ou tutelares como Carlos César (limitado por ser Presidente). E de gente que esteve próxima de António Costa, sem ser propriamente o seu círculo mais próximo.

A escolha dos centristas será entre o confronto e a acomodação. Entre medir forças com forte risco de perder (o que ganharia com isso, neste momento?), dividindo o partido em vésperas de eleições, ou fazer valer o seu peso e o seu carimbo de “moderação” para impor alguns limites a Pedro Nuno Santos. A questão é se o PS continua mais racional e gregário do que o PSD ou se mergulha no mar agitado destes tempos. Há alguns sinais, mas saberemos isso muito brevemente.

Deixo de fora cenários mais esdrúxulos que correm por aí, como a de transformar Mário Centeno numa espécie de Emmanuel Macron lusitano, com os efeitos políticos que tragicamente vimos em França. Mesmo em fantasia, há especulações plantadas a que não devemos dar alimento.»

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1 comments:

António Alves Barros Lopes disse...

- Pedro Nuno Santos??? - O do Aeroporto???