14.11.23

Duas correntes rosa no lamaçal

 


«O país está submerso, há uma semana, num lamaçal político, com repercussões tentaculares em diversas instituições. Depois de termos sido varridos por um tsunami judicial que detonou o Governo, eis que surgem outros episódios que descredibilizam o funcionamento das instituições. Os erros do Ministério Público nas escutas que afinal não implicam o primeiro-ministro, mas o seu ministro António Costa Silva, e no processo que envolve vários autarcas, como Isaltino Morais, que culminou na anulação da acusação por não terem sido cumpridos os preceitos legais, e a libertação dos cinco detidos no âmbito da Operação Influencer, com a queda da principal acusação (corrupção), maculam a confiança dos portugueses na justiça em geral, e na atuação do Ministério Público, em particular. O lamentável folhetim do convite de Marcelo Rebelo de Sousa a Mário Centeno para chefiar o Governo que afinal não existiu revela, no mínimo, falta de discrição e bom senso ao mais alto nível na gestão de um dossiê delicado ou, numa interpretação menos benigna, a instrumentalização do Banco de Portugal pelo ainda primeiro-ministro com a publicitação do seu presidente.

É neste contexto que no PS, o partido que suporta o Governo caído em desgraça, avança para a corrida à liderança Pedro Nuno Santos, o ambicioso e aguerrido “enfant terrible” que chegou a ser um superministro até se incompatibilizar com Costa, depois do discreto e moderado José Luís Carneiro ter dado o tiro de partida no sábado, tentando capitalizar a reputação que amealhou como um dos mais consensuais ativos deste Governo. De um lado, um dos quatro jovens turcos (outro, João Galamba, é também um dos protagonistas do dia ao demitir-se, finalmente, sem que tivesse sido destituído pelo chefe de Governo), de discurso incendiário contra a troika, mas que foi um dos maestros da geringonça que permitiu ao PS governar sem maioria. Do outro, um católico mais conservador, costista assumido, que já fez questão de separar as águas em relação ao seu opositor, ao preferir o diálogo com o centro-direita. Com o Governo em funções durante mais de quatro meses e exposto a um desgaste diário, falta saber como Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro vão tentar conquistar o PS e o país.»

.

1 comments:

Fenix disse...


"Do outro, um católico mais conservador, costista assumido, que já fez questão de separar as águas em relação ao seu opositor, ao preferir o diálogo com o centro-direita."


Vira o disco e toca o mesmo! Que saudade que para ali vai dos tempos da alternância!

Tenho esperança que a juventude com mais consciência social, impeça a repetição do paradigma anterior a 2015, e que por favor, não deixem que se repita o descalabro das maiorias absolutas.