25.11.23

Escondido no armário

 


«O filme está a desenvolver-se à frente dos nossos olhos há demasiado tempo. Os atores comunicam em diferentes línguas, por essa Europa e Mundo fora, embora o argumento seja, no essencial, o mesmo. Resume-se assim: populistas de Direita conquistam eleitorado e poder à custa dos chamados partidos tradicionais, enquanto estes ocupam parte significativa do seu tempo e discurso a diabolizar esses populistas, que se alimentam do escárnio dos moderados para acumular capital social.

É, por isso, imperioso que, com o país mergulhado numa crise institucional profunda, se afine a agulha em torno do essencial e se comece a discutir o Portugal em que vivem os cidadãos e não a bolha político-mediática em que gravitam os políticos e as máquinas de comunicação. As ideias perigosas combatem-se com ideias úteis e transformadoras. O desencanto dos portugueses é com os políticos, não com as políticas. Mas os primeiros sinais desta pré-campanha para as eleições legislativas de março não têm sido entusiasmantes.

Se repararmos, apenas os partidos pequenos vão fazendo um esforço para recentrar a agenda, enquanto PS e PSD vivem enredados em lutas internas por lugares e debates infindáveis sobre quem é ideologicamente mais puro ou quem está mais apto para se aliar com A ou com B. Convenhamos: é muito pouco para quem almeja ser Governo. Não se espantem, por isso, que André Ventura e o Chega capitalizem nas urnas não apenas o natural descontentamento do eleitorado clássico, mas que consigam também convocar novos eleitores. Basta ver a forma eficaz (ancorada, é verdade, numa lógica de entretenimento) como têm feito passar a mensagem junto dos jovens no TikTok. Culpar fantasmas pela nossa inépcia é sempre mais fácil, mas na noite de 10 de março ninguém vai poder dizer que não sabia da existência de um esqueleto escondido no armário.»

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1 comments:

Fenix disse...


"Se repararmos, apenas os partidos pequenos vão fazendo um esforço para recentrar a agenda, enquanto PS e PSD vivem enredados em lutas internas por lugares e debates infindáveis sobre quem é ideologicamente mais puro ou quem está mais apto para se aliar com A ou com B."


"Apenas" os partidos pequenos!

De tão habituados que estamos aos governos de alternância, cujas políticas só servem para manter o "status quo" que, basta que os extremistas da direita façam mais barulho para ficarmos alarmados porque o "povinho", qual rebanho, irá atrás do pastor mais ruidoso.

Sinceramente, se passados 50 anos de democracia, ainda não somos politizados o suficiente para sabermos o que queremos, então definitivamente, não merecemos o sangue derramado pelos que nos "abriram as portas" para fazermos acontecer!