«Os portugueses vão ser chamados às urnas a 10 de março para votar num projeto político em que acreditam com todas as ganas? Ou vão simplesmente arrastar-se até às secções de voto para escolher um mal menor? As múltiplas sondagens publicadas denunciam um grande número de indecisos e intenções de voto relativamente próximas entre PS e PSD, independentemente de quem vier a liderar os socialistas. Ou seja, não temos, ainda, um claro vencedor antecipado. Mesmo o PS, desgastado por oito anos de poder, está longe de ser um derrotado antes do tiro de partida.
Em março de 2024, poderemos ter fatores que concorrem para um novo recorde na taxa de ausências de eleitores e, por outro lado, para um empate (ou quase) entre os dois maiores partidos. A confirmar-se, quem sai mal na fotografia é toda a classe política.
Se recuarmos às eleições de 2015, a taxa de abstenção foi de 44,1%, o valor mais alto até àquela data (em 2019 chegaria a 51,4% e em 2022 a 48,6%). No final de 2014, José Sócrates tornou-se no primeiro ex-chefe de Governo a ser detido. Ainda assim, o PS ficou em segundo nas eleições do ano seguinte. O PSD ganhou essas legislativas, depois de vários anos a impor medidas de austeridade alegadamente impostas pela troika. Foi neste contexto particular que surgiu a geringonça.
Em março, um PSD impreparado para governar - segundo a maioria dos inquiridos em sondagens publicadas pelo JN ao longo dos últimos meses - enfrentará um PS envolto em suspeitas de cariz judicial. Tal como em 2015, os fatores desfavoráveis de um e de outro partido equilibram-se, fazendo tender o fluxo de votos para o empate.
A cereja no topo do bolo é a crescente suspeita em torno do próprio presidente da República quanto à sua atuação no caso das gémeas brasileiras. Injusta ou não, essa suspeita de cariz ético avoluma o descrédito dos políticos e tende a inflacionar o bloco dos abstencionistas.»
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