«É uma espécie de jogo de boxe, em alguns casos; noutros, uma disputa a ver quem consegue interromper mais vezes o adversário, quem consegue falar mais depressa, quem consegue lançar para cima da mesa acusações, nunca depois verificadas, e que, para os menos informados ou desatentos, figurarão como verdades.
Os debates nos canais televisivos para as legislativas, desde há uma semana no ar, assumem esta forma. Esclarecer o eleitorado devia ser o objetivo. Não é. Quando muito, será mais um espetáculo televisivo, onde o líder do partido, candidato às legislativas do próximo dia 10 de março, tem pouco mais de uma dezena de minutos para apresentar as suas propostas, debatê-las com o opositor. A moderar, não raro, um jornalista, pouco poupado nas palavras, acaba por ocupar tanto tempo no debate como os seus convidados - esquecendo que o frente a frente existe para se ouvir propostas dos candidatos, sem abdicar, naturalmente, de questionar.
É esse o seu papel. Mas, enfim, começa a ser regra relegar os convidados para segundo plano.
E como se o mundo estivesse invertido, as televisões dão agora mais espaço ao comentário dos debates do que aos próprios debates. É o metadebate, um cenário novo que já motivou uma carta aberta do Conselho Nacional da Juventude dirigida ao presidente da República, à Comissão Nacional de Eleições e aos órgãos de Comunicação Social. Nessa missiva, é pedido mais tempo, do que “uma pausa para café”, para os candidatos explicarem as suas propostas ao país.
No que assistimos, dizem, “resta apenas a desinformação, a política do soundbyte e dos pequenos cortes de vídeo de um minuto, contribuindo para criar caos, não sendo fiel aos desígnios que um debate devia cumprir: esclarecer e informar”. Quem escolheu este modelo achará que o esclarecimento vem, logo a seguir, com notas e tudo, pela boca dos doutos comentadores - estão lá, como dizia um especialista em comunicação, para descodificar o discurso dos políticos, como se os portugueses tivessem orelhas de burro.»
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1 comments:
"Ser contra tudo, é ser ao contrário. Toda a revolta que destrói a solidariedade perde o nome
de revolta e coincide com o consentimento assassino ". Albert Camus," O Homem revoltado ".O Metadebate é um inquietante sinal da vitória dos mediagogos que suplantaram os demagogos, os piores inimigos da democracia.O mediagogo-opera e subverte a golpes de sedicäo o imaginário
que antecipará o fim da opaca soberania popular substituindo-a maquiavelicamente por
uma câmara de reclamacöes onde a adrelanina e a moralina cooperam a captacäo do consentimemto paralelamente à plutocracia partidária stricto sensu.E a ideologia pode despertar o totalitarismo, conforme avisou Hanna Arendt.Os post-comentários aos debates säo um prémio grotesco da manipulacäo e controlo que os sistemas de poder e as ideologias em confronto utilizam para "facilitar"o exercicio da politica entre a accäo e o connsentimento sempre
irregular e paradoxal face à tentacäo burocrática e autoritária. Niet
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