«Elon Musk ganha 56 mil milhões de dólares, como CEO da Tesla. Isto é, seis vezes mais do que os 200 executivos que se seguem na lista dos que mais ganham. Ora, segundo o jornal “The Guardian”, um juiz do Delaware decidiu que Musk ganhava demais. A decisão judicial resultou de uma ação interposta pelos acionistas que se consideravam prejudicados, com o argumento de que os ganhos do CEO diminuíam os lucros e dividendos de que podiam também beneficiar.
Claro que nesta disputa não se consideraram outros argumentos, como o da desproporção entre os rendimentos do CEO e os salários dos técnicos, chefias intermédias e trabalhadores da Tesla. A seguir à segunda guerra mundial, nos EUA, a remuneração média dos executivos de uma grande empresa era, em média, pouco mais de dez vezes superior à dos trabalhadores. Hoje, os CEO americanos podem ganhar 350 vezes mais do que os trabalhadores. A mudança ilustra bem o crescimento recente da desigualdade socioeconómica. .
Tempos de extrema desigualdade na distribuição da riqueza podem, desde logo, pôr em causa os interesses dos acionistas ou as necessidades de reinvestimento produtivo e de desenvolvimento das empresas. Mas não só. Em regra, a componente salarial da remuneração dos CEO raramente representa mais de 10% do rendimento total recebido. Ou seja, embora elevada a remuneração dos CEO é sujeita a um regime fiscal mais favorável do que o que incide sobre os salários dos trabalhadores.
Tão escandalosa é a injustiça em causa, que mesmo alguns dos maiores bilionários já vieram manifestar o seu descontentamento com a situação e solicitar um regime fiscal mais equitativo, mesmo que isso signifique pagarem muito mais impostos. É o caso de Warren Buffett que declarou ser inaceitável beneficiar de uma taxa de imposto muito inferior à da sua secretária. Na última reunião de Davos, reações semelhantes foram protagonizadas por outros milionários. Claro que Elon Musk não integra esta minoria de grandes empresários. .
Porém, na minha opinião a questão critica é mesmo a de saber qual é o valor do trabalho, o que justifica a prática de remunerações estratosféricas, seja nas empresas, no futebol ou em outras atividades? O que justifica tal desigualdade? Em 1998, o defesa holandês Jaap Stam, que protagonizou a transferência no futebol até então mais cara, reconheceu, em entrevista, que não merecia os 10 milhões de libras por ele pagas. Nem ele, dizia, nem ninguém. .
É também do desconforto com os rendimentos excessivos e a desigualdade que lhe está associada que se alimentam os populismos. Voltarei a este assunto na próxima semana.» .
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