27.5.24

A aritmética e a política

 


«Pela quinta vez, o PS conseguiu aprovar uma proposta no Parlamento porque beneficiou da abstenção do Chega. Depois de ter inviabilizado em duas ocasiões (2020 e 2022) a redução do IVA da eletricidade quando era governo, o PS congratula-se agora por avançar com uma iniciativa “socialmente justa” e “financeiramente responsável” (Alexandra Leitão dixit). As propostas mais ambiciosas de outros partidos para minorar a pobreza energética foram todas chumbadas. Em tom de indisfarçável gabarolice, Pedro Nuno Santos resumiu o infortúnio de Luís Montenegro: “O Governo não conseguiu até agora aprovar uma única proposta na Assembleia da República”. E enumerou as outras quatro vitórias parlamentares: a dedução de rendas em sede de IRS, a eliminação das portagens nas ex-scut, a exclusão dos rendimentos dos filhos como condição de acesso ao complemento solidário para idosos e o alargamento do apoio ao alojamento estudantil para os estudantes deslocados da classe média.

O PSD fez as contas ao que considera a “irresponsabilidade” do PS e estima que o impacto destas propostas - que só terão alcance no próximo ano - ascenda a dois mil milhões de euros, o que vai condicionar o próximo Orçamento do Estado. Mas, antes disso, o Governo tem outras frentes de batalha. Como o recém-aprovado pacote de apoios para os jovens que já mereceu críticas do PS ou a revisão dos escalões do IRS - tema em discussão em sede de especialidade, depois das propostas da Esquerda terem sido viabilizadas com a abstenção do Chega.

Os resultados das legislativas que partiram a Assembleia da República em três blocos já faziam antever que a governação obrigaria a uma complexa aritmética. E os resultados estão à vista. Em quase dois meses, a AD ainda não negociou qualquer medida com os outros partidos e arrisca ver bloqueadas todas as decisões que passem pelo Parlamento. PS aprovou cinco medidas com o apoio do Chega. Ventura mostra a força dos seus 50 deputados ao viabilizar as propostas da Esquerda, empurrando Montenegro para as cordas. A matemática, para já, demonstra uma evidência simples: é mais fácil ser oposição do que governar.»


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