29.8.24

Clarificação imperfeita

 


«Marcelo Rebelo de Sousa enterrou a chantagem de André Ventura ao confirmar o que todos sabíamos, até o autor do delírio da consulta popular sobre imigração: como é óbvio, não haverá referendo. O líder do Chega procurará nos próximos meses convencer a opinião pública de que só não negoceia com os partidos do Governo porque a condição que colocou não está preenchida, mas o que acontece é que Ventura não se excluiu, foi há muito excluído.

A clarificação do presidente da República, em resposta a alunos da Universidade de Verão do PSD, serviu-se dos números para explicar que a narrativa dos extremistas de Direita é despropositada. Mas, erro de cálculo ou não, a realidade é que a argumentação não terá sido a melhor. Estratificar os grupos de imigrantes em função da proveniência para chegar à conclusão de que não temos um problema é contraproducente. A comunidade muçulmana, que tanto incomoda os xenófobos, é residual, aponta Marcelo. E se estivesse em maioria, estaríamos perante um problema?

Provavelmente, Ventura aproveitará a brecha da decomposição da imigração. Até porque, como escrevi neste espaço na passada semana, segue em perda, esmagado por Luís Montenegro. Ontem, o primeiro-ministro voltou a capitalizar junto do eleitorado do Chega, que vê Pedro Passos Coelho como uma espécie de D. Sebastião que um dia aparecerá em Belém. Como as presidenciais ainda vêm longe e há outros potenciais candidatos no partido laranja mais bem colocados, o líder do PSD mandou Maria Luís Albuquerque, a ministra das Finanças de Passos, para Bruxelas, piscando o olho à ala direita do partido e, simultaneamente, aos correligionários de Ventura.»


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