21.8.24

Fornos escaldantes

 


«A canícula está no seu auge e os últimos dados sobre o calor são avassaladores. Entre 22 de julho e 16 de agosto, onze dos 18 distritos em Portugal continental passaram por, pelo menos, um dia em alerta devido ao calor. 22 e 23 de julho foram os dois dias com a temperatura média global mais elevada registada no planeta, sendo que este ano terminará, muito provavelmente, como o mais quente em todo o Mundo. Diariamente, especialmente nas cidades, deparamo-nos com a evidência de que aumento das temperaturas é também uma crise de saúde pública. Mais de 47 mil pessoas morreram na Europa no ano passado devido ao calor, das quais 1432 eram portuguesas. A acrescentar que, em duas semanas, o país registou mais 700 mortes do que o esperado devido às altas temperaturas e ao aumento de transmissão de covid. Em Portugal, mais de metade da população reside em cidades e muitas delas não estão preparadas nem para o calor nem para o frio. Os materiais de construção das ruas e dos edifícios promovem ilhas de calor. Ao mesmo tempo, o tráfego é um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa, os principais responsáveis pelo aquecimento global. Pelo que questionar ou boicotar diretamente as medidas para reduzir a utilização de carros nas cidades deveria ser politicamente inadmissível. Tanto o Governo como os municípios podem tomar medidas para evitar transformar as cidades em fornos escaldantes durante o verão, como aumentar as áreas verdes e o número de árvores, cuja sombra pode baixar a temperatura entre seis e oito graus. Por exemplo, Paris plantou mais de 63 mil novas árvores entre 2020 e 2023. Em contraste, as cidades portuguesas, como Porto ou Lisboa, estão a perder todos os dias árvores nas suas ruas, apesar de ambas terem programas de plantação. A nova arquitetura desenha praças sem sombra, inóspitas para os habitantes. É bom que quem tem responsabilidades nos municípios comece a lembrar-se que os construtores não podem governar o planeamento urbano.»

António José Gouveia

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