3.8.24

Medalhas sem pódio

 


«A catarse coletiva há de fazer-se no final, mas podemos desde já antever uma avaliação crítica, ancorada nos afastamentos prematuros de atletas em quem se depositavam grandes esperanças. Portugal corre o risco de ficar aquém das metas nos Jogos Olímpicos. É verdade que ainda temos Iuri Leitão no ciclismo, o sempiterno Fernando Pimenta na canoagem e Pedro Pichardo no atletismo para nos fazerem sonhar com uma prestação, se não melhor, pelo menos equivalente a Tóquio 2020 (quatro medalhas e 15 diplomas, a bitola do Comité Olímpico e do Governo), mas importa olhar para o que foram dizendo, por estes dias, os nossos atletas afastados: deram tudo (disso ninguém pode duvidar), mas tudo não foi suficiente.

Os Jogos Olímpicos vivem de resultados. E, por mais injusto que seja resumir anos de treino, dedicação e sacrifício a uma prestação mal conseguida, é essa a dura realidade. São os desempenhos, e as medalhas, que ficam para a história, não a abnegação pessoal ou as frustrações individuais.

Andamos há décadas a carpir mágoas e a culpar o futebol por secar tudo à volta. Mas não podemos ignorar, como bem notava Luís Alves Monteiro, presidente da Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal, que ficamos muito mal na fotografia quando nos comparamos com países idênticos: desde que participa nos Jogos, Portugal ganhou 28 medalhas; a Bélgica 157; a Hungria e a Suécia 500 e a Bulgária mais de 90. O efeito eucalipto do futebol (que é evidente) não desculpa tudo.

Há razões estruturais que explicam este desempenho, mas num país onde o associativismo desportivo é forte e onde a disponibilidade dos miúdos para praticarem diferentes modalidades é notória, não podemos deixar de ficar frustrados. Não com os atletas, que esses, olhando para as condições em que treinam e se formam, são medalhados que não carecem de pódio, mas com a forma como encaramos o desporto nas bases. Na escola, nas comunidades. Traduzindo, a longo prazo, a aposta em infraestruturas num esforço contínuo para privilegiar, de facto, os bons atletas, não os transformando em super-heróis ocasionais que têm de resistir a tudo e, no final, ainda ficarem obrigados a embelezar o medalheiro da pátria. Sem estratégia e foco não há medalhas. Sem desportistas motivados e orientados não há milagres. Já só faltam quatro anos para voltarmos a ter esta discussão.»


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