23.8.24

Os 50 são os novos 50

 


«Primeiro, o adversário de Trump era um homem branco velho. Agora, é uma mulher negra jovem. De repente, ele vai enfrentar, num certo sentido, o exacto oposto do que pensava que ia ter pela frente. As características pessoais dos outros, em princípio, não me interessam. Tenho aquela ideia antiga segundo a qual o género, a cor da pele, a orientação sexual e a idade, sendo particularidades que a gente não escolhe nem controla, não nos definem. Mas, para Trump, são a única coisa que interessa. É com base nelas que ele formula julgamentos. Por isso, tem um problema para resolver. Ele é agora o idoso. Terá 78 anos no dia da eleição. Se for eleito, no fim do mandato terá a idade que Biden tem hoje. Tudo o que foi dizendo sobre Biden aplica-se agora a si mesmo.

Sei que talvez tenha exagerado quando disse que Kamala Harris é “jovem”. Vai fazer 60 anos em Outubro. No meu tempo, isso não era um jovem. No contexto da política americana, porém, é uma rapariga na flor da idade. Eu, que tenho menos 10 anos do que Kamala Harris, não me definiria como um jovem. Tenho 50 anos e recuso aquelas ideias populares segundo as quais “os 50 são os novos 30”. Não são, não. Nem eu quero que sejam. Não quero voltar a ter as preocupações que tinha aos 30. Aos 50, a gente deixa de ligar ao que os outros pensam de nós, e eu não quero voltar a comportar-me de outra maneira. Faço coisas em público que são muito compensadoras para mim e muito embaraçosas para as minhas filhas. É óptimo. E levo a mal que queiram fingir que sou mais novo do que sou. O idadismo pode ser feio, mas a idadofilia é condescendente e ofensiva. Há uma série de filmes chamada “The Equalizer”. O protagonista, interpretado por Denzel Washington, é um antigo agente da CIA que aproveita a reforma para defender pessoas que são vítimas de várias máfias. No decurso das suas aventuras, Denzel derrota dezenas de mafiosos armados usando apenas as mãos. Notem: ele está desarmado. Contra mafiosos que têm várias armas cada um. Ele pressiona um botão do seu relógio e murmura: “17 segundos.” E depois manieta seis ou sete bandidos exactamente nesse espaço de tempo. Não sei se já disse, mas os mafiosos têm armas automáticas e Denzel está desarmado. Ora, Denzel Washington vai fazer 70 anos em Dezembro. Não esperem que nós, os velhos, sejamos capazes de proezas destas. Contem connosco para dizer coisas erradas em momentos delicados — e mais nada. Tirem estes filmes da categoria de “Acção”, onde estão catalogados, quando deviam estar em “Ficção Científica”.»


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