«Eu já tinha ouvido falar em burlas para obter o licenciamento de projectos imobiliários que valem milhões, ou para vender por muito dinheiro um bem sem valor algum. Mas a professora Paula Pinto Pereira terá alegadamente burlado o Estado português com o objectivo de ir ensinar Matemática na Escola Secundária do Barreiro. Tenho sérias dúvidas de que isto possa ser considerado uma burla. Se eu, sob falsos pretextos, conseguir convencer alguém a dar-me com um barrote nas costas, serei um burlão que merece castigo ou um desgraçado a quem se deve compaixão? O sr. Ponzi concebeu um esquema que prejudicou inúmeras pessoas. O esquema de Pereira beneficiou o Estado, que contou com uma professora durante décadas, beneficiou os alunos, cujos pais elogiam o modo como educou os seus filhos, e continua a beneficiar o sistema de ensino, pois os manuais de que é co-autora são usados ainda hoje. O único lesado, a haver algum, foi ela. Se houver justiça, Paula Pinto Pereira deve ser submetida à avaliação de uma junta médica, só para garantir que não padece da perversão masoquista incapacitante que o seu comportamento parece sugerir, e recolocada imediatamente na escola em que trabalhava.
No entanto, o Estado português tem uma ideia diferente, e quer que a professora seja julgada por suspeitas de burla qualificada. É vontade de embirrar: se a professora apresenta documentos falsos, o Estado critica-a por não ser qualificada; se engendra uma burla, o Estado censura-a por ser qualificada. Infelizmente, Paula Pinto Pereira não é professora de Português, e por isso está impedida de ensinar ao Estado o significado da palavra ironia.
O aspecto mais repugnante deste caso é o seguinte: o alegado esquema da professora Paula Pinto Pereira foi descoberto na sequência de uma denúncia anónima. Alguém foi capaz do seguinte raciocínio: “Esta vida de sonho da Paula tem de acabar. Se depender de mim, ela não continuará a ocupar o prestigiante e bem remunerado cargo de professora de Matemática em agrupamentos de escolas da margem sul. Os seus dias de fortuna e glamour, a explicar a adolescentes que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos, estão contados.” Se o Estado português quer dar um exemplo aos cidadãos, a pessoa que fez a denúncia é que deve ser capturada, julgada e presa. No sistema de ensino português, o problema não são os professores que querem ensinar. Já a figura do queixinhas anda a dar cabo disto há décadas.»
2 comments:
-Então é um anónimo que vem, ao fim de tanto tempo, defender a honra do convento???
- O que é que no intervalo o Estado andou a fazer no sentido de nos defender desta "aldrabice"
O mesmo que das outras!
Leva-me a reportar uma outra situação! Ver https://lopesdareosa.blogspot.com/2022/09/o-meu-amigo-rufo.html
"...quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos, ..." Que é isto?
O correcto é: O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos!
Não é por nada, mas no meu tempo houve muita gente a levar reguadas e puxões de orelhas, devido a este erro
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