«Enquanto os líderes partidários se desencontram na discussão do Orçamento do Estado e os comentadores se desdobram em teorias sobre o próximo presidente da República, o país real saiu ontem à rua, provando que existem dois mundos no mesmo retângulo ibérico. Há um claro divórcio entre as prioridades de governantes e governados, que se desligam do teatro político e gritam por um teto, direito consagrado na Constituição.
De sociedade justificadamente preocupada com as pessoas em situação de sem-abrigo, passamos na última meia dúzia de anos a direcionar também a atenção para a imensa maioria que não consegue sair do abrigo da casa dos pais para poder constituir família, um obstáculo ingrato e injusto que, noutra dimensão, afeta na mesma medida os mais velhos, empurrados para fora das cidades, onde as rendas, as poucas que restam, são proibitivas, em contraste com a fartura de alojamento destinado a turistas.
Sucessivos governos, incapazes de resolver o problema, debitam medidas de apoio à natalidade, como se a tal maioria jovem arriscasse ao acaso e sem casa no sentido de resolver o problema demográfico de um país envelhecido. A mais recente tentativa de dar aos jovens condições mais favoráveis no acesso ao crédito ainda não saiu do papel e apenas serviu os interesses da especulação imobiliária - os últimos registos sobre o aumento dos preços da habitação comprovam-no. Dirão os liberais que é o mercado a funcionar. Talvez. Mas estamos perante uma situação limite. E é nestas alturas que devemos exigir a intervenção do Estado. Sem dogmas ideológicos. Com regulação. Se for preciso, através da imposição de tetos máximos nas rendas e no preço das casas, porque a alternativa, a ausência de esperança por um teto, é dramática.»
1 comments:
Um pais sem teto mas com muitas tetas.
As últimas ( as mais recentes, que não as últimas...esperemos!) são as do PRR!!
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