«Fugir da violência ou da guerra, da pobreza ou da fome não é um crime. Rumar a um país diferente daquele em que se nasceu à procura de trabalho, cuidados de saúde, proteção social, uma vida digna, para si próprio ou para os seus, não é um crime. Um migrante resgatado no mar ou que dá à costa agarrado a um colete salva-vidas não pode ser castigado. Um migrante que chega à nossa porta sem pedir licença não é um criminoso. E, no entanto, está em marcha, na União Europeia, a criminalização da imigração irregular. Pressionados pela obsessão e pelas mentiras dos populistas, assustados com crescimento eleitoral da extrema-direita, políticos à Esquerda e à Direita vão cedendo nos valores humanistas e demolindo o pilar da democracia: os direitos, liberdades e garantias que deveriam ser de todos, incluindo dos que chegam violentados ou esfomeados.
O mais recente exemplo dessa marcha impiedosa rumo à “fortaleza Europa”, que divide os seres humanos entre nós e os outros, entre cidadãos e criaturas sem direitos, é o centro de detenção que a Itália construiu na Albânia. Gente desvalida, resgatada do mar, é agora recambiada para o outro lado do Adriático. Para fora da União Europeia, esse chão pelos vistos sagrado, que não pode ser conspurcado por gente de outras etnias, religiões ou cor de pele. Não cometeram nenhum crime, mas são tratados como criminosos e privados da liberdade. Seria sempre intolerável, mas até em termos financeiros é desastroso: transportar os primeiros 16 migrantes para aquela espécie de campo de concentração custou 18 mil euros por cabeça. Acresce o custo com a manutenção: 800 milhões de euros em cinco anos. Entusiasmada, a presidente da Comissão Europeia diz que é um esquema a avaliar. É de “soluções inovadoras” como estas que, segundo Ursula von der Leyen, a Europa precisa. Os direitos humanos não são para aqui chamados.
Não quer isto dizer que não é preciso enfrentar o problema. A Europa não pode acolher todos os deserdados deste mundo. Mas deportar pessoas para um país qualquer e enfiá-las numa prisão, sem sequer perguntar quais são os seus motivos, não é a melhor solução. É apenas uma indignidade.»
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