«Comemorar os 49 anos do 25 de Novembro na Assembleia da República com o mesmo modelo dos 50 anos do 25 de Abril é uma aberração. Comemorar os 50 anos do 25 de Novembro com o mesmo modelo dos 50 anos do 25 de Abril, convenhamos, também seria um disparate.
Mas é isso que vai acontecer dentro de dias no Parlamento, fruto de uma convergência e de uma pressa deliberada dos partidos de direita. Foi aprovado com os votos do PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega, no final de uma discussão em que o partido proponente declarou tratar-se de uma “vitória do CDS e uma vitória de todos os democratas”.
Vai haver honras militares, hino nacional no arranque e no encerramento da cerimónia, intervenções do Presidente da República e do presidente da Assembleia da República e discursos de todos os partidos de cinco minutos e meio (menos meio minuto do que o tempo previsto na grelha da sessão do 25 de Abril).
A Associação 25 de Abril já recusou o convite para estar presente, alegando que “nenhum dos acontecimentos posteriores” ao dia 25 de Abril de 1974, incluindo a movimentação militar do dia 25 de Novembro, “se pode comparar ao ‘dia inicial, inteiro e limpo’”.
Esta terça-feira, o PCP anunciou que também não irá estar presente, com argumentos semelhantes, dizendo rejeitar “a operação de desvalorização e apagamento do 25 de Abril”.
Em 2019, quando o CDS apresentou esta proposta, e foi chumbada, porque nessa altura havia uma maioria de esquerda no Parlamento, Manuel Carvalho alertava aqui para o “perigo” de a “celebração de uma facção ideológica representar uma provocação da facção oposta”. O ex-Presidente da República Ramalho Eanes, que viria a recusar presidir à comissão das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, já tinha avisado que “momentos fracturantes não se comemoram, recordam-se”.
Agora, passados cinco anos, foi com os votos determinantes do Chega, que entretanto cresceu para 50 deputados, que aquela proposta do CDS foi aprovada e que, sublinhe-se, acabou por dar origem a uma sessão mais solene do que a ideia original de 2019.
O 25 de Novembro garantiu ao país a democracia plural e ajudou a moldar o país de hoje. Nessa altura, Mário Soares e Francisco Sá Carneiro estiveram do mesmo lado, contra os militares influenciados pela extrema-esquerda e o PCP de Álvaro Cunhal.
Na sessão que celebrará para a semana o 25 de Novembro, o PSD aparecerá colado à extrema-direita, que concretizou, através do CDS, um dos seus sonhos: centrar a discussão numa polarização entre si e partidos como o PCP e o BE.
Há cinco anos, em plena “geringonça”, fazer essa discussão era um embaraço para o PS, que tinha naqueles partidos um importante suporte. Hoje, ter o figurino a que vamos assistir no Parlamento é um presente que o PSD dá de bandeja ao Chega.»
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