«Todos sabíamos que era possível, mas poucos queriam acreditar que acontecesse. Foi assim em 2016, foi assim em 2024. O resto do Mundo civilizado que não é a América voltou a envergar as vestes da inocência. Mas os Estados Unidos não são a Europa. A América não somos nós. Basta conhecer um pouco da fauna sociológica da nação que elegeu Trump para se perceber melhor o resultado destas eleições. Trump conquistou terreno em geografias com maiores desigualdades sociais, mas também onde os custos com a habitação são altos e onde vive uma parte expressiva das populações “estrangeiras” nascidas nos Estados Unidos. Acresce que, desta vez, obteve a maioria do voto popular, além de ter varrido o colégio eleitoral. Portanto, este desfecho está longe de ser apenas resultado do malfadado voto de protesto. Os americanos escolheram Trump porque ele lhes falou ao bolso e não se preocupou em ser decente ou verdadeiro. “Se querem transformar alguém num ícone, tentem metê-lo na cadeia ou tentem arruiná-lo financeiramente. Tudo isso falhou. Só conseguiram torná-lo numa força política ainda mais poderosa”, sintetizou, a propósito, Roger Stone, destacado republicano.
A diferença, desta vez, reside no poder de choque do movimento trumpista e na enfraquecida resistência que irá encontrar mesmo entre os poderes responsáveis pelo equilíbrio do regime. Seja no âmbito das reformas legislativas, na política económica, na externa e em particular na estratégia que irá seguir no campo da imigração. Depois, e mesmo não sendo nós a América, esta vitória terá obviamente um impacto significativo no realinhamento ideológico e programático dos partidos mais à Direita de todo o Mundo. O conservadorismo tradicional levou porventura a sua maior facada dos últimos anos. O quanto pior melhor está a viver uma segunda vida. Com Trump ao comando não será o fim dos tempos, mas os seguidores da sua política do caos permanecerão muito para além do segundo mandato na Casa Branca do presidente-fanfarrão.»
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