«O principal problema que se coloca aos nacionalistas portugueses é, provavelmente, o facto de o nacionalismo português ser de tão má qualidade. Noutros países, os nacionalistas são em maior número, têm mais influência, chegam a ganhar eleições. Em Portugal, no entanto, ninguém liga aos nacionalistas. A sua defesa dos portugueses não seduz os portugueses, o que é estranho. Em princípio, o amor a Portugal contaria com o amor de Portugal. Nos congressos internacionais de nacionalistas, imagino que os nacionalistas portugueses sejam populares. Os nacionalistas estrangeiros, que estão, como todos os nacionalistas, convencidos da sua superioridade, olham para os nacionalistas portugueses e confirmam-na. Mas, em território português, não deve ser fácil ser nacionalista. Os seus encontros de confraternização atraem menos gente do que um Varzim-Rio Ave — e com justiça, uma vez que o Dérbi do Mar costuma proporcionar bons espectáculos. O amor exacerbado a Portugal repele os portugueses. A culpa não é, evidentemente, de Portugal. É um país de qualidade muito razoável, com um clima convidativo, gastronomia excelente e uma língua belíssima. O problema é dos nacionalistas, que são fracos. Julgo que o natacionalismo, a crença de que a natação é superior aos outros desportos, consegue reunir mais adeptos do que o nacionalismo. Curiosamente, o facto de Portugal produzir nacionalistas pífios é um bom motivo de orgulho no país.
Nos últimos tempos, os nacionalistas portugueses têm andado entretidos a, em nome dos seus egrégios avós, interromper lançamentos de livros e cancelar colóquios. Não sei o que é que D. Nuno Álvares Pereira acharia destas actividades, mas não tenho a certeza de que ficasse propriamente orgulhoso. Vencer uma batalha contra um exército castelhano quatro vezes maior é uma coisa, fazer algazarra no lançamento da obra “O Pedro Gosta do Afonso” é outra. São proezas de dimensão ligeiramente diferente. Prova disso é o facto de, até agora, não serem ainda conhecidos planos para a edificação de um mosteiro comemorativo da interrupção do lançamento da obra “O Pedro Gosta do Afonso”. É muito evidente que os nacionalistas portugueses não querem trabalhar. Entre projectos de verdadeiro pendor nacionalista — como, por exemplo, reconquistar Olivença — e epopeias inconsequentes, como o cancelamento de obscuros colóquios, a escolha deles é clara. E é nessa altura, na verdade, que os nacionalistas portugueses prestam a maior homenagem ao país. Entre o heróico mas trabalhoso e o fácil mas inútil, eles escolhem sempre o fácil e inútil. Como qualquer bom português. Continuem a iluminar o caminho, rapazes.»
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