12.1.25

Os superegos da distopia

 


«A distopia entrou nas nossas vidas sem bater à porta. Os Estados Unidos têm dois presidentes, um eleito pelo povo, Donald Trump, que admite mandar avançar o exército mais poderoso do Mundo sobre o território de um aliado, e o outro, Elon Musk, líder de uma espécie de governo-sombra, apostado em derrubar o primeiro-ministro britânico. É uma amostra, porque o mandato ainda nem começou. Pode não passar de fanfarronice ou de mais um acesso de loucura diplomática, mas o desejo de controlo da Gronelândia, “à la Putin”, é a pior notícia possível para os ucranianos e para a comunidade internacional. Como poderá um governante defensor de doutrinas expansionistas exigir ou mediar o fim de um conflito que começou precisamente no dia em que a Rússia invadiu um país vizinho? Por absurdo, muitos do que levantaram a voz contra Putin, compreensivelmente, são os mesmos que não conseguiram esconder uma certa felicidade mesquinha pela derrota de Kamala Harris para o plutocrata que se prepara para assumir o poder na América, incompreensivelmente. Juntos, e veremos quanto tempo durará a convivência, os superegos de Trump e de Musk são dinamite incandescente no barril de pólvora em que se transformou a Terra nos últimos três anos. Sabíamos que eram racistas, machistas e homofóbicos, até fascistas, talvez, mas expansionistas ninguém estaria a contar. Como a Europa, o último bastião da decência, evolui anémica no seu emaranhado burocrático, é difícil encontrar um gatilho de mudança. Só mesmo o povo, como aquele que ontem saiu à rua em Lisboa, pode travar os saudosistas das ditaduras do século passado que conduziram a duas guerras mundiais, porque o tempo é outro, mas a ideologia é a mesma.»


1 comments:

Fenix disse...


"Como a Europa, o último bastião da decência,..."

...e com a fasquia muito baixa!