«“Estás a ver a discussão do Trump/Vance contra o Zelensky?” escreveu-me um grande amigo que vive em Washington DC e trabalha no Banco Mundial, e que já me vem dizendo que são às dezenas os projectos de desenvolvimento por todo o mundo que terminaram por falta de financiamento americano.
Vi tudo quase em directo, e já não consegui que a minha atenção fosse para mais lado nenhum nessa noite, e boa parte de Sábado. Algumas coisas que os mais desatentos talvez não saibam. A Associated Press e a Reuters foram proibidas de estar naquele encontro na sala oval, duas das maiores cadeias noticiosas do mundo, mas a TASS que faz parte da propaganda russa, tinha lá jornalistas presentes. Foi uma cilada orquestrada para humilhar Zelensky, humilhar a Europa, e humilhar as democracias de todo o mundo.
Foi pornografia política o que assistimos. Quando a mentira tem mais valor do que a verdade, a justiça é uma miragem e a civilização impraticável. Zelensky e todos os ucranianos, estão a ver o seu povo a ser chacinado, hospitais bombardeados, massacres com violações sexuais em massa, para depois ter que ouvir, um bully, um narcisista e mentiroso patológico inebriado pela sua megalomania a dizer irritado e ao ataque: “You are gambling with World War III!” - Estás a jogar com a 3a Guerra Mundial - o que seria o mesmo que dizer que a Polónia foi a culpada da segunda grande guerra.
Trump é uma marionete de Putin. Trump admira Putin porque o que o presidente americano quer, tal como se viu noutro vídeo pornográfico publicado por Trump sobre a sua visão de Gaza, é ter os mesmos poderes que um ditador; sem oposição, sem imprensa livre, com um obsessivo culto da personalidade, e com todos os poderes centrados e controlados por um homem.
Não sei se é nas frases patéticas de Trump na campanha “só preciso de ser ditador por um dia”, ou “só vão ter votar em mim uma vez” que percebemos que a democracia americana está, neste momento, a extinguir-se, mas sim, nos planos bem delineados do “Projecto 2025” todo ele escrito por trumpistas em que entre muitas outras coisas gravíssimas, se destaca a colocação dos tribunais sob a tutela do poder do presidente, o que põe fim à separação de poderes, um dos mais elementares princípios das democracias.
Em Portugal ouço na televisão, pessoas muito mais sábias e experientes do que eu nestas matérias, serenamente a dizer em uníssono, “a democracia americana não vai acabar…são só 4 anos”, e nos EUA e pelo mundo fora ouço historiadores e politólogos em análises puramente factuais e não baseadas em achismos que concluem: o golpe de Estado e o fim da democracia americana já estão em curso.
Há alguns democratas e alguns meios de comunicação social que mantêm a coragem de dizer a verdade sobre Trump e a sua agenda (com o Washington Post já não podemos contar, porque Jeff Bezos, dono da Amazon, empurrou o editor-chefe a demitir-se por não alinhar na linguagem do regime de Trump). Mas a verdade é que a maioria dos americanos, mesmo republicanos moderados, que sabem p.e. que é tão claro como a água que a Rússia invadiu a Ucrânia que estão calados e cheios de medo de falar, porque até generais com décadas de serviço foram despedidos só porque não agradam a Trump.
E na Europa dos valores, dos direitos, das democracias sólidas, o que é que se lê ou ouve? Nada. Nada de nada. Ahhh… peço desculpa, ouve-se “Eu estou com a Ucrânia” que é uma versão adaptada da falácia “Acredito da solução dos dois Estados” que podia ser um discurso da miss mundo, se não tiverem a coragem de criticar e afastarem-se imediatamente do autocrata fascista, Donald Trump.
Trump é um mentiroso.
Trump quer ser um autocrata.
Trump é um inimigo do mundo livre.
Trump não respeita a lei internacional.
Trump tem os americanos manietados pela ameaça.
Trump mentiu ao dizer que Zelensky é um ditador.
Trump mentiu ao dizer que a Ucrânia é a culpada pela guerra.
Trump mentiu ao dizer que apenas 4% dos ucranianos apoiam Zelensky.
Trump está mais próximo de Putin do que da Europa.
Nenhum líder europeu, nem um, teve coragem de dizer aquilo que tem tanto de evidente como de importante de ser dito, pois o futuro das democracias depende da coragem dos líderes e dos seus povos, parece que já não há ninguém do calibre de Winston Churchill, mas se não houver vamos ser esmagados entre Trump e Putin.
Não há nem um que tenha tido a coragem de criticar Trump. Criticar Putin basicamente todos os europeus o fazem. Mas quando Trump repete a propaganda de Putin, humilha o presidente que representa os heróis que têm mantido a super poderosa Rússia afastada de invadir a UE, lutando por todos nós, à custa de centenas de milhares de vidas… nenhum líder europeu teve a coragem de criticar Trump. Nem um. São todos cobardes.
A NATO acabou, só falta a certidão de óbito. A Europa tem que se unir, as democracias têm que se unir, em pactos políticos, económicos e militares… e não duvidem que a democracia americana, a mais antiga do mundo em vigor, acabou. E acabou embalada no nosso silêncio.»
As crónicas de Gustavo Carona são a favor dos Médicos sem Fronteiras
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