«Percorrer as redes sociais de Carlos Moedas é uma inspiração para qualquer influencer. Esta segunda-feira soubemos pelo Instagram que inaugurou uma creche em Monsanto, resultado de “um trabalho conjunto com a Junta de Freguesia de Benfica”. Traduzindo: inaugurou uma obra feita pela junta, paga integralmente pela junta e que vai ser gerida pela junta. A intervenção da CML foi a cedência de um espaço que estava vago.
Entre fotografias de uma porta com borboletas e brinquedos, lá aparece o presidente - que nesse dia, infelizmente, não conseguiu estar na reunião de câmara extraordinária que ele próprio tinha marcado, para defender a sua proposta de prolongamento da concessão dos terrenos da Alta de Lisboa à SGAL por mais sete anos. Ao contrário do que chegou a anunciar um jornal, a proposta não foi votada nesse dia por ausência do proponente, que estava ocupado a cortar fitas.
A ânsia de inaugurações é tanta que, quando não há nada para inaugurar, Moedas até lança primeiras pedras em estaleiros onde as obras já estão a bom ritmo. O Centro de Saúde de Campo de Ourique ou o da Ribeira Nova, que fazem parte do pacote de projetos que herdou do anterior executivo, são bons exemplos. O que as redes não mostram são novas unidades da sua iniciativa. Zero, bola, nem um rascunho, que o presidente anda demasiado ocupado a tentar criar um Estado Social paralelo (ou local, como prefere dizer). E a tirar fotografias em todas as oportunidades.
Se não segue as várias publicações diárias de Carlos Moedas, não se preocupe. Há um vídeo que sumariza a sua semana e que é uma extraordinária peça de marketing pessoal. Mostra como, em apenas seis dias, Moedas consegue lançar várias primeiras pedras, dar entrevistas a duas televisões, fazer inaugurações, ir ao teatro, atribuir medalhas de mérito cultural, passar pela Moda Lisboa, por um jantar no Dia da Mulher, estar num concerto do Tony Carreira e ainda aparecer a tempo de disparar o tiro de partida da Meia-maratona de Lisboa. Não sabemos se no sétimo dia descansou.
Moedas também inaugura obras de outras entidades, em cerimónias para as quais é apenas um convidado protocolar. Como foi o caso do novo Centro de Acolhimento para Sem-Abrigo da Santa Casa da Misericórdia e dos jardins do CAM, na Gulbenkian.
A verdade é que, com tanta agitação, as publicações tornam-se cansativas e forçadas e um dia sem nada nas redes deixa-nos preocupados com o presidente de Lisboa. O ritmo deve ser angustiante, sobretudo para quem lhe vai tratar da campanha eleitoral. O futuro-candidato-Moedas vai ter dificuldades em competir com o ainda-não-candidato na criação de uma agenda tão dinâmica. Já para não dizer que o frenético proto-candidato arrisca chegar esgotado à meta.
Não estamos habituados a que um autarca tenha uma máquina de propaganda tão oleada, e este nível de autopromoção permanente só se justifica quando há outras ambições em jogo. Mas será isto que queremos dos políticos, uma figura híbrida entre o gestor do condomínio e uma influencer?
Eu trocaria de bom grado as mensagens de propaganda por explicações sobre a nova greve da Carris e o que está a fazer o município para evitar o caos na vida dos lisboetas. Também preferia que, em vez de me mostrar que foi ao teatro, o presidente me informasse sobre as peças em cena nos equipamentos municipais. E gostaria, principalmente, de saber quem está a governar, de facto, a cidade enquanto Carlos Moedas nos mostra o seu umbigo a todas as horas do dia.
PS - Enquanto escrevo estas linhas, Moedas está no Reels no Centro Paroquial S. Francisco de Paula, a prometer voltar para comer a sopa na cantina. Já vimos este filme.»
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