«À procura do espelho mais simétrico a que possa deitar mãos para uma averiguação preventiva, o Ministério Público (MP) não presta grande serviço à justiça ao colocar situações completamente incomparáveis no mesmo patamar no espaço de um mês. Sobretudo, no olho do furacão de um contexto político ao qual, vistas as coisas ao parágrafo, não é alheio. Desde as linhas sobre António Costa no parágrafo que semeou as condições ideais para pôr fim a uma maioria absoluta desgastada com um líder a sonhar com voos europeus, o MP tem contribuído tanto para a instabilidade política que, agora, se sente na obrigação de fechar os olhos à disparidade e meter no mesmo saco os casos de Luís Montenegro e de Pedro Nuno Santos (PNS), como se fossem efectivamente comparáveis. Não são e a objectiva necessidade do MP embandeirar em imparcialidade é um marco de desconfiança em si, nos seus processos, justeza e competências. É, todo ele, um acto de fingimento que não colhe nem se espera das suas superiores atribuições na representação do Estado e na defesa da legalidade democrática.
São praticamente os mesmos os factos que levaram o Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto a arquivar uma denúncia anónima de 2024, antes das legislativas de março, sobre as casas de PNS. Perante mais uma denúncia anónima nos mesmos termos, PNS faz o que tem a fazer, disponibilizando todos os documentos de imediato, mas não está livre de que alguém escreva mais um parágrafo, anónimo ou pela mão de um regresso ao passado do “modus operandi” de Lucília Gago. Estamos todos tão cansados da interferência que atira ao homem, como da interferência salomónica. Está a ser altura do MP ir a juízo se prova que não o tem.
A dificuldade em valorizar “o caso” de PNS atravessa o espectro político e ainda bem. Mesmo para uma oposição à oposição sedenta de novos casos de corrupção, é difícil ser selvagem ou demagógico. O PSD mostra sentido de Estado, até porque sabe que não pode desempoeirar o tapete que colocou debaixo da cama. Mas ao criticar a disponibilização das provas pelo líder do PS, talvez seja o PSD a olhar ao espelho e a ver o que não foi capaz de fazer a bom tempo.»
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