«Os níveis de percepção de que a imigração está descontrolada, de que os ciganos são uns malfeitores e de que a corrupção aumentou e é uma prática comum entre as instituições públicas entranharam-se até ao tutano e talvez ajudem a explicar, entre outros factores, como é que um partido passou de um para 58 deputados no espaço de seis anos. O costume. Como diria Laurie Anderson, a linguagem é um vírus e este expande-se mais rapidamente do que o sarampo.
A atitude do Governo da AD só tem contribuído para inflamar este discurso anti-imigração, quando se intromete de forma inadequada nas operações policiais na Rua do Benformoso, em Lisboa, ou quando comunica sobre o tema e o faz sempre numa perspectiva negativa. O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, parece ter uma especial predilecção em falar no crescente número de indeferimentos de pedidos de autorização de residência em Portugal — que são cerca de 30 mil —, que darão origem a notificações de abandono voluntário, como se estivesse a falar da erradicação de um perigo. Não é assim que o PSD se vai apropriar de um eleitorado que tem preferido votar Chega.
O PSD pode esvaziar o tema da imigração se for lesto e competente a regularizar a situação de quem deve ser regularizado, se se empenhar na integração humana e sincera de quem foi autorizado a permanecer, a notificar quem não tem condições para o ser, a combater as redes de tráfico de pessoas. No fundo, o tema da imigração pode deixar de gerar a percepção que gera se o futuro Governo o abordar como prioridade política e administrativa. Se estiver mais interessado nos ganhos sociais do que no campeonato das percepções.»
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