4.5.25

O apagão ressuscitou um monstro

 


«O SIRESP é calor em tempo de seca, tromba de água no dilúvio, cozido à portuguesa à noite. Quando a sua presença é dispensável, está sempre lá, prontinho a ser usado. Trata-se de um sistema em perfeitas condições de operacionalidade quando não é necessário operar com ele. Durante a última década e meia, apesar de se manter 24 horas por dia ligada à ficha, poucas vezes se falou da rede destinada às comunicações dos serviços de emergência e segurança em período de crise. O sistema mostrou pela primeira vez o grau de fiabilidade num incêndio no Caramulo, em 2013, voltou à cena mediática no pós-tragédia de Pedrógão, em 2017, e ressuscitou na segunda-feira, durante o apagão. Manteve-se, no entanto, moribundo, tornando a falhar em toda a linha. O único dado positivo que se consegue extrair desta análise rápida é que o SIRESP, ao contrário de outros serviços do Estado, é bastante previsível: em caso de catástrofe, nunca funciona. A falência deste monstro composto por antenas e falsas redundâncias ilustra bem a incompetência de sucessivos governos. Se custasse um euro, já seria caro, como o país paga milhões para sustentar o zombie, é lamentável que os constrangimentos persistam numa infraestrutura tão sensível e essencial para a segurança dos cidadãos, sobretudo em caso de catástrofe. Mas em vez de servir a comunidade, o SIRESP tem um potencial de destruição arrasador para credibilidade das instituições democráticas, porque ninguém compreende a inércia dos políticos perante o que está à vista de todos. Se não serve, é para desligar, depois de contratualizar um novo serviço. Passados quase 20 anos, será assim tão difícil perceber?»


0 comments: