5.5.25

O imigrante é uma arma

 


«Longe vão os tempos em que José Mário Branco escreveu “A cantiga é uma arma” – ainda que Luís Montenegro ache que vai ganhar votos (e se calhar vai) com o indigente hino “Deixem o Luís trabalhar”, que está uns metros abaixo, na escala da foleirice, do famoso “menino guerreiro” com que Santana Lopes se apresentou na campanha de 2005.

Para a AD, agora a grande arma chama-se “caça ao imigrante”. O imigrante vai ser rebaixado até ao infinito porque a AD precisa dos votos do Chega e de engordar a sua votação à conta do eleitorado que no ano passado votou no partido de André Ventura.

Valerá tudo. Sábado alvoreceu com o anúncio solene de Leitão Amaro de que nas próximas semanas vai atingir o lindo número de “18 mil pessoas com recusas já decididas” para abandonar o país. Mas que ninguém se engane: o Governo quer mostrar que está a trabalhar para nos libertar de imigrantes.

No Facebook, o socialista Francisco Assis escreveu: “O Governo e o PSD instrumentalizam de modo obsceno o complexo e sensível fenómeno da imigração com o exclusivo objectivo de obtenção de alguns ganhos eleitorais.”

A “trumpização” no discurso sobre imigrantes é óbvia, embora na lei o não seja. Montenegro chega à noite de sábado a ir muito mais longe do que Passos Coelho foi no ano passado no discurso de Faro. No comício de Paredes, Montenegro sacou da sua pistola particular: “Os que não cumprirem as regras temos de os fazer regressar à sua origem”. Afinal, este domingo em Bragança pôs Soflan no discurso: “O processo começou em Junho do ano passado. Não foi acelerado agora.” Pois. Só que interessou pôr o Governo a anunciar a suposta “montenegrização” do país.

Se o imigrante já é pau para toda a obra que os portugueses não querem fazer, o arranque da campanha serviu para mostrar que a humilhação do imigrante é uma arma eleitoral para a AD tentar recuperar os votos que foram para Ventura. Só falta associar a imigração à insegurança, como fez Passos Coelho no ano passado. A xenofobia vencerá.»


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