16.5.25

Para pintar político de verde, tire a senha aqui

 


«Ah, a nostalgia dos primeiros atentados dos activistas climáticos… Eram surpreendentes, frescos, plasticamente deslumbrantes. Ver um ministro coberto de tinta verde satisfazia uma ambição estética que ninguém sabia ter. Da parte do activista, requeriam uma astúcia rara. Tinham de se infiltrar numa acção de campanha e simular interesse pelas palavras do orador — que é especialmente difícil de fingir. Era preciso apanhar os seguranças distraídos, aproximar-se dissimuladamente e, por fim, lançar a tinta. Agora, como se viu no incidente protagonizado por Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, não é preciso invadir o palco a correr. Os activistas apresentaram-se junto do púlpito e foram cumprimentados pelo líder partidário. Seguiu-se uma breve conversa que não foi possível ouvir, mas que é fácil de imaginar.

— Boa tarde. Para esverdear, é aqui?

— É, sim. Estávamos à vossa espera. Quase todos os outros partidos já tinham tido candidatos cobertos de tinta verde. A vossa indiferença começava a preocupar-nos.

— Pedimos desculpa. Não nos interprete mal, nós também o abominamos.

— Agradeço. Estou pronto para ser imolado pela vossa fúria.

Depois, os activistas revolveram demoradamente um saco, para reunirem uma boa mão-cheia de pó. Rui Rocha aguardou, com muita paciência. Quando o pó foi arremessado, o presidente da Iniciativa Liberal não se mexeu, permitindo que os activistas o cobrissem de tinta. Findo o enfarinhamento, Rui Rocha esperou um pouco, só para garantir que a cerimónia tinha terminado, e voltou ao púlpito para exibir o seu martírio verde. O público ficou eufórico. Os assessores apareceram nessa altura, e levaram os activistas com o alívio de quem foi capaz de chegar a tempo de não conseguir evitar o atentado. Eram assessores jovens, e não deve ter sido fácil moverem-se de forma tão lenta.

Proponho que, de agora em diante, o ritual passe a ser incluído na campanha. Os jornalistas recebem agendas que dizem: “No sábado, o líder do partido visita uma feira de manhã e, à tarde, é coberto de tinta verde por activistas.” Para que o trabalho fique bem feito, sugiro que os activistas montem uma banquinha de maquilhagem, como as dos aniversários de crianças, na qual possam pintar o candidato, durante uma boa meia hora, com um desenho à sua escolha: um animal em vias de extinção, um fragmento da floresta amazónica, uma fábrica a deitar fumo. Vamos levar esta colaboração para o próximo nível.»


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