«Mal se soube que o Governo ia dar incentivos fiscais a quem arrendasse casas a preços moderados, a medida recolheu bastantes elogios. Quando, no dia seguinte, se descobriu que o conceito de renda moderada ia até 2300 euros, o entusiasmo esmoreceu um pouco. Segundo os críticos, num país em que o salário médio ronda os 1400 euros, não se pode chamar moderada a uma renda de 2300 euros. Mas suponhamos que os dois elementos de um casal ganham, cada um, 1400 euros. Juntos, auferem 2800 euros. Podem perfeitamente pagar os 2300 euros de renda e ainda ficam com 500 euros para as outras despesas mensais. Assim já se percebe melhor porque é que se chama renda moderada. Porque o casal em causa terá de ser moderado. Moderado na alimentação, moderado nos transportes, moderado nas despesas com a educação dos filhos.
Uma pergunta impertinente repetida muitas vezes foi: onde?
Onde é que uma renda de 2300 euros é moderada? A resposta é evidente: na Dinamarca. É frequente ouvirmos suspirar que em países como a Dinamarca se vive melhor. Pois bem, Luís Montenegro já se comporta como se fosse o primeiro-ministro dinamarquês. Agora só falta o povo acompanhar este esforço. Se temos mesmo vontade de viver como os dinamarqueses, há que começar por algum lado. O custo da habitação é um aspecto tão bom para começar como qualquer outro. A objecção do costume é: sim, mas nós não temos os salários da Dinamarca. Calma. Uma coisa de cada vez. A minha tia não tinha pássaros no jardim. Instalou uma casinha para pássaros e de repente passou a ter. O método do Governo é igual: primeiro, faz-se uma casa para pessoas que têm salários ao nível da Dinamarca. E depois essas pessoas acabarão por aparecer.
Aliás, é possível que já estejam a aparecer. O ministro da Habitação disse que as rendas de 2300 euros são moderadas para agregados familiares cujo rendimento seja de 5 mil euros líquidos — ou seja, para casais em que cada cônjuge ganhe mais de 2500 euros por mês. De acordo com um estudo recente, os trabalhadores que ganham 3 mil euros por mês ou mais correspondem a 2% da população. Significa isto que o Governo é alvo da habitual injustiça conhecida por “preso por ter cão e preso por não ter”: se não se preocupa com as minorias, é insensível; se toma medidas que beneficiam 2% da população, também é criticado. Enfim. Pela minha parte, em sinal de apoio a esta medida vou abrir uma garrafa de champanhe que adquiri a preço moderado. Na loja havia champanhe caríssimo. O que eu comprei é apenas bastante caro. Sou pela moderação.»

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