10.10.25

Que Passos não se apoquente, não haverá linhas vermelhas nas autarquias

 


«Se Montenegro dizia “não é não” e acabou a cozinhar uma lei da imigração com Ventura, imaginem o que quer dizer a recusa em esclarecer entendimentos pós-eleitorais com o Chega. Já estão feitos. E não, falar disso não é, como disse Montenegro, “politiquês”. É o direito de os eleitores saberem se, no dia seguinte às eleições, vão ter um vereador do Chega a gerir bairros sociais, apoios sociais e polícias municipais. Até podem querer. Mas os que recusam essa ideia exigem clareza.

A palavra do líder não determina o que acontecerá em cada câmara. Mas se é líder, dá indicações gerais. Foi o que José Luís Carneiro, com uma clareza que até me surpreendeu, fez: não há entendimentos com a extrema-direita. Luís Montenegro, ao chutar para canto, também passou uma mensagem: pode haver, cada autarca decidirá. O apelo de Passos(que criou Ventura numas eleições autárquicas), para pôr de lado as linhas vermelhas, vem tarde. Já não há motivo para se preocupar. Elas já não existem. Há algum tempo. E nestas autárquicas isso deixará de ser tema. É “politiquês”.

Há autarcas que já decidiram. Em Sintra, um concelho especialmente sensível pela sua enorme diversidade cultural e étnica, Marco Almeida, o eterno candidato derrotado do PSD, já deixou claro que essas linhas vermelhas não existem.

Pelo mediatismo da jovem candidata do Chega, Rita Matias, pelo facto de este ser concelho do líder e pela importância demográfica e política de Sintra, é de esperar que o partido queira fazer desta aliança um laboratório de entendimentos e políticas discriminatórias. Talvez Marco Almeida lhe possa dar o pelouro da educação, para que leve à prática o bonito espetáculo que nos ofereceu quando leu os nomes das crianças malandras que, sendo filhas de estrangeiros, se atrevem a frequentar o pré-escolar.

Em Lisboa, não é provável que, caso Carlos Moedas consiga travar a caminhada descendente da sua campanha e vencer as eleições, queira continuar a governar em minoria. Assim como Alexandra Leitão se vai entender com o PCP (como Medina fez no passado com o Bloco, que, apesar dos avisos de Moedas, já teve vereadores com pelouro), Moedas terá dificuldade em não se entender com o partido que até teve a amabilidade de escolher, para a capital, um candidato de 20ª linha.

Não se trata de voltar a fazer os debates do passado. Debates que, como se viu nos posteriores entendimentos quanto a tudo em que seria de esperar distância, foram inconsequentes. Nessa matéria, as coisas estão claras e decididas. Trata-se de recordar que o Chega não vai apenas ganhar autarquias. Vai poder aplicar as suas políticas discriminatórias e desumanas em autarquias em que não vença. Do processo de normalização do discurso, passaremos para a normalização da prática.»


0 comments: