«Quando se soube que Luís Montenegro tinha dito aos autarcas, no Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses, que a regionalização não ia avançar nesta legislatura, temi pela saúde dos profissionais da comunicação social. Se o primeiro-ministro vai passar a anunciar todas as coisas que não vão avançar em Portugal, a quantidade de conferências de imprensa que os jornalistas terão de acompanhar vai conduzi-los ao esgotamento. O número de medidas e obras que não vão avançar supera largamente o das que vão avançar – até porque, entre as que vão avançar, também se contam algumas que não avançam. No histórico dia 14 de Maio de 2024, o governo anunciou que o novo aeroporto de Lisboa ia finalmente avançar. Não tenho passado por Alcochete, mas suspeito que, mais de um ano e meio depois, o avanço não se nota. O aeroporto Luís de Camões já tem nome – que é, de facto, o mais importante, mas creio que não tem mais nada.
Na mesma semana em que anunciou o não avanço da regionalização, Montenegro prometeu o avanço do salário mínimo nacional para 1600 euros. Enfim, não foi bem prometer. Disse que era um objectivo realista e será “calendarizado” quando “houver alicerces para isso”. Quando, em Outubro de 2020, o parlamento discutiu uma proposta de aumento do salário mínimo para 850 euros, uma deputada do PSD disse que a proposta “não era para levar a sério” e que a sua concretização seria “um acto irresponsável”. Escassos 5 anos depois, o mesmo PSD acha realista o objectivo de aumentar para 1600 euros. A diferença entre uma proposta realista e outra que não é para levar a sério é o modo como é apresentada. Quem pretende aumentar o salário mínimo é irresponsável; quem diz ter o objectivo de aumentar o salário mínimo é realista. Ter objectivos não custa dinheiro. Quem acha que o primeiro-ministro disse que o salário mínimo aumentará para 1600 euros quando houver alicerces para isso tem de ir ler melhor as declarações. Ele foi ainda mais realista do que isso. Disse que, quando houver alicerces para isso, o aumento será calendarizado. Isto é de uma prudência extraordinária. Outros líderes políticos talvez se precipitassem, aumentando o salário mínimo quando as condições para isso surgissem. Mas Montenegro avança passo a passo. Quando houver alicerces, calendariza-se. Porque não é certo que, mal haja condições para aumentar o salário mínimo para 1600 euros, Montenegro tenha tempo para o fazer imediatamente. Nessa altura, pode estar ocupado a inaugurar o aeroporto.»

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