1.5.07

1º de Maio de 1973 - o último sem liberdade

(José Dias Coelho, 1961)


As manifestações do 1º de Maio de 1974 foram tão fortes, ficaram de tal maneira gravadas na memória de quem as viveu, ou de quem vai vendo as imagens ano após ano, que podemos ser levados a esquecer o que eram os 1ºs de Maio no tempo do fascismo. Mas não devemos.

Recordo hoje o último – o 1º de Maio de 1973 –, citando uma circular da CNSPP (Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos), datada de 9/5/1973:

«Tem-se verificado, nas últimas semanas, um acentuado agravamento da repressão política no nosso país: com o pretexto de impedir quaisquer manifestações públicas por ocasião do 1.º de Maio, procedeu a Direcção-Geral de Segurança à prisão indiscriminada de um elevado número de pessoas, em várias localidades e pertencendo aos mais diversos sectores de actividade profissional. Só durante o período que decorreu de 7 de Abril a 7 de Maio tem a CNSPP conhecimento de terem sido presas 91 pessoas, cujos elementos de identificação se possuem já. Sabe-se, no entanto, que muitas outras dezenas de pessoas foram detidas (...)
No 1.° de Maio, as zonas centrais da cidade de Lisboa e Porto foram teatro de grandes concentrações por parte das forças das diversas corporações policias e parapoliciais (com agentes fardados e à paisana). No Rossio e em toda a área circundante essa presença não se limitou ao papel de intimidação ou de repressão, mas adquiriu características de verdadeira agressão: espancamentos brutais e indiscriminados, grande número de feridos, dezenas de prisões. Dessa agressão foram vítimas muitos trabalhadores, assim como estudantes e outras pessoas que se limitavam a passar pelo local».

O cenário repetia-se todos os anos, cada vez com maior repressão, porque se reforçava a resistência e a reacção dos portugueses a condições políticas e sociais absolutamente insuportáveis e a uma interminável guerra colonial. Eram muitas as movimentações de trabalhadores, habitualmente concretizadas em greves (totalmente proibidas e reprimidas, como é óbvio). Em Abril e Maio, há que referir, as de empresas como: CUF, Mague, Cel-Cat, Cabos d'Ávila, bancários, etc., etc.



Entretanto, no fim da década de 60 e nos primeiros anos da de 70, tinham surgido novas formas de luta com organizações como a LUAR, a ARA e as Brigadas Revolucionárias.


Na madrugada desse 1º de Maio de 1973, as Brigadas Revolucionários fizeram explodir engenhos que destruíram dois pisos do Ministério das Corporações, na Praça de Londres em Lisboa. Na véspera, tinham distribuído panfletos convocando para as manifestações do 1º de Maio, em cerca de 200 localidades, através do rebentamento de petardos.

Durante a tarde, foram recebidos telefonemas com falsos alertas de bomba em várias empresas de Lisboa. Veio a saber-se depois que o objectivo da iniciativa era «libertar» mais cedo os trabalhadores para que pudessem participar na manifestação. Lembro-me perfeitamente deste facto porque uma dessas empresas foi a IBM, onde eu trabalhava. E lá fomos alguns (poucos...) para o Rossio.




Um ano depois foi a festa. Inesquecível. Quase irreal.

2 comments:

cs disse...

Boa peça histórica esta.
Relembrar 1973 e o seu 1º de Maio é um Serviço Público
Como sempre é bom passar por aqui. Aprendo sempre qualquer coisa.
:)

Joana Lopes disse...

Obrigada, cs. Volte sempre. Vai gostar de um «post» que publicarei na próxima noite.