19.4.10

Pacheco Pereira onde menos espera encontrá-lo


O Google levou-me até lá por caminhos ínvios e absolutamente inesperados: a uma entrevista recente de JPP à Agência Ecclesia, a propósito da vinda do papa a Portugal.

«Tem uma dupla importância: por um lado, como Papa, falará aos fiéis e mesmo aos que não são fiéis, traz uma mensagem de uma instituição que é fundamental em Portugal, a Igreja. Depois há o seu papel como um dos grandes intelectuais do século XX e início do século XXI, que mesmo enquanto Papa não deixa de permanecer como um intelectual. (…)

Para mim, o que é mais interessante na identidade da Igreja é aquilo que penso ser socialmente virtuoso nessa identidade. Especialmente, num país como Portugal cuja soberania, independência e identidade está ligada à Igreja. Bento XVI tem uma noção de reforço dessa identidade de combate ao relativismo e do combate a um conjunto de teorias – caso da Teologia da Libertação – que transformava o cristianismo numa espécie de progressismo político muito influenciado pelo marxismo.»

Comentários? Quem quiser que os faça...
...

18 comments:

Vitor M. Trigo disse...

Um dia JPP irá para o céu.
Está a trabalhar para isso.

Unknown disse...

Esta ´mau mas o anterior"sato subito" ainda era pior...
Este apanha os cacos todos(os dele e do outro)e não vai a santo.Nem subitonem lontano...
José

NG disse...

Quem mostrar o mínimo de simpatia pela Igreja Católica ou pelo Papa, leva. Não é assim, Joana?

Joana Lopes disse...

Claro que não Nuno, mas de JPP não era expectável - digo eu, que ainda me espanto com algumas coisas.
Se fosse o Pedro Arroja ou o César das Neves a dizerem estas coisas, acharia normal.

Anónimo disse...

a icar anda a pagar bem a estes traficantes de influencias
é ver tambem o caso de ines pedrosa no expresso a defender o indefensavel para já não falar de outros tantos que andam a mamar à conta do que o estado dá à icar

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nuno Gaspar,
o que se passa é simples. Deixando de lado, como diz o Rui Bebiano no Vias de Facto -http://viasfacto.blogspot.com/2010/04/bento-xvi-nao-sera-gorbatchev.html -, os casos recentemente mediatizados, que não passam de epifenómenos, há boas razões para que aqueles de entre nós que mantêm convicções democráticas se oponham ao que politicamente Bento XVI significa.
Em termos de pensamento político, Ratzinger - já antes de ser Papa e agora do mesmo modo - faz-se arauto de uma doutrina que estipula que a deliberação e decisão das leis por que nos governamos seja posta, nas questões de fundo, fora do alcance da vontade e do debate democráticos dos cidadãos.
É certo que fala de "democracia", mas fá-lo para dizer que esta deve subordinar-se aos critérios estabelecidos por uma interpretação da "lei natural", que é a aprovada pela hierarquia de Roma. A liberdade que propõe é sempre condicional; a organização da sociedade que advoga é corporativa e aponta para a existência de um Estado forte que só pode tender a tornar-nos súbditos da sua autoridade superior e cuja contestação, nos aspectos essenciais, é declarada ilegítima.
Por outras palavras, trata-se de uma doutrina que visa manter a menoridade política da grande maioria dos membros da sociedade, confiando o seu comando, a administração e regulão a condução competente e ortodoxa de governantes e órgãos de governo cujos liberalismo e tolerância se adivinham que seriam inversamente proporcionais à insatisfação dos governados.
É esta pretensão de conhecer e poder assegurar melhor do que os interessados os seus verdadeiros interesses, pretensão que o papa reclama para a Igreja como os regimes do ex-socialismo real a reclamavam para os partidos-guia, que faz com que tenhamos de escolher entre a doutrina e a acção política da hierarquia romana e o exercício do livre-exame e da liberdade de criação instituinte da luta pela democracia.
Com as cordiais lembranças que sabe

msp

NG disse...

" faz-se arauto de uma doutrina que estipula que a deliberação e decisão das leis por que nos governamos seja posta, nas questões de fundo, fora do alcance da vontade e do debate democráticos dos cidadãos. "

Por gentileza (como se diz onde estou a viver agora), dê lá exemplos para ver se percebemos melhor.

NG disse...

E veja lá, Miguel, a vontade de denegrir é tanta que até aparecem anónimos em caixas de comentários a acusar Inês Pedrosa, responsável por trazer Hitchens a Portugal, um dos mais ferozes e vis detractores da Igreja Católica contemporânea,de tráfico de infuências em favor desta.
Valha-me Deus...

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nuno,
no primeiro post que publiquei no Vias de Facto, analiso, referindo-me a fontes fidedignas, o pensamento político de Ratzinger, já Papa. A tese da subordinação das razões dos cidadãos a um poder político "supra-democrático", que imponha uma interpretação superiormente autorizada da "lei natural", é explicitamente defendida. Veja o meu post (http://viasfacto.blogspot.com/2010/03/com-papas-bolos_8424.html#more) e também o "DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS MEMBROS DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL" ( http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2007/october/documents/hf_ben-xvi_spe_20071005_cti_po.html ).

A minha vontade não é denegrir seja quem for, mas combater politicamente as ideias e programas de acção que visam limitar a liberdade e a igualdade e a capacidade política dos cidadãos activos que poderíamos ser.
Você não acha legítimo discutir a concepção da verdade, da ordem moral, da sociedade e do poder político que a Igreja sustenta?

msp

Anónimo disse...

http://www.peticaopublica.com/peticaoVer.aspx?pi=Bento16 Aconselho a leitura desta petição, com fortes críticas à "Hierarquia" católica portuguesa e à Rádio Renascença, entre outras.

Joana Lopes disse...

Obrigada, ainda não tinha visto a petição.

Armando Cerqueira disse...

Depois da (re?)conversão de JPP da extrema-esquerda mais esquerdista à direita liberal-conservadora era expectável esse tributo ao actual Papa conservador.

Conversei com JPP na cooperativa Devir nos idos de 1971 ou 1972, quando por lá passou para promover um seu livro sobre o movimento operário. Não gostei dele (não por tiques meus de sectarismo de que já então não padecia) porque 'exalava' uma auréola de inautenticidade.

Ele deu posteriormente uma volta de 160º. Tem todo o direito de percorrer os restantes 20º.

Tenhamos paciência bíblica.

Armando Cerqueira

Joana Lopes disse...

Apesar de tudo, acho isto estranho. Ele não «pode» pensar isto.

NG disse...

"Você não acha legítimo discutir a concepção da verdade, da ordem moral, da sociedade e do poder político que a Igreja sustenta?"


Da concepção da ordem moral e da sociedade acho a reflexão legítima e necessária, mais, indispensável, sobretudo entre quem se sente em comunhão com a Igreja. Já acho mais estranho que muita gente a quem os temas da Fé não interessam se demore de forma tão apaixonada a vasculhar toda e qualquer possibilidade de polémica, detracção, até injúria, que tenha a ver com um grupo de pessoas que sentem alguns apelos de vida diferentes dos seus.
Eu não teria ficado triste se, por exemplo H. Kung tivesse sido alguma vez nomeado bispo e eleito Papa, ou Dom José Policarpo, ou o Cardeal Martini. Pelo contrário.
Mas parece-me que a Igreja ainda sabe acolher diversidade o suficiente para não merecer esta patrulha maldosa constante.
Sobre o poder político não sei do que fala, caro Miguel. Conheço gente que se afirma católica desde a extrema direita à extrema esquerda.

Saudações atlânticas
(São Paulo, BR)

NG

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nuno,
o que se passa é que o Papa ou certos documentos pastorais da hierarquia da Igreja apresentam certas propostas baseadas numa concepção política e social a que podemos, no mínimo, chamar "autoritária", "paternalista", e que entende menorizar a capacidade política e o alcance da deliberação democrática dos cidadãos. Muitos católicos ou não-católicos não concordam com essas propostas e denunciam publicamente - tão publicamente como o Papa difunde as suas ideias - o que entendem ser os seus propósitos ou efeitos antidemocráticos. Ao que a hierarquia responde que está a ser perseguida. E até você, meu caro Nuno, parece sugerir que os "apelos" que as tomadas de posição públicas - endereçadas a crentes e não crentes - veiculam não deveriam ser objecto de juízo político pelos que não têm fé.
Confesso que não alcanço bem as suas razões, mas, na medida em que as formula nos termos em que o faz, a sua inspiração parece-me pouco favorável ao livre exame e à livre expressão do pensamento.
É que se você continua pelo caminho por que optou para esta troca de ideias, sugere a quem o ouve ou lê que o que está em causa não é discutir esta ou aquela proposta filosófica ou política da hierarquia eclesiástica ou do Papa, mas a legitimidade de quem não faz parte da Igreja discutir as "verdades" ou "interpretações da verdade" que esta propõe na praça pública, e que têm, e pretendem ter, consequências políticas para todos.
Não era outro o sentido da minha pergunta: "Você não acha legítimo discutir a concepção da verdade, da ordem moral, da sociedade e do poder político que a Igreja sustenta?" - onde por "Igreja" se deve entender aqui, não o que este ou aquele católico pensa e defende, mas a hierarquia oficial do Vaticano, coroada pelo Papa.
Seu cordial interlocutor

msp

Anónimo disse...

Deixem o Pacheco Pereira em paz.

Anteriormente também o perseguia dada a sua rotação em termos de pensamento político. Posteriormente comecei a entender que afinal ele evolui descomplexadamente e que o que escreve e afirma tem mais visão do que aparenta - enquanto uma turba de críticos se acotovela para o cruxificar, a maior parte desses parados no tempo e no espaço, que já tomaram uma posição definida à partida.


Parece que ainda não entenderam que ser fracturante, humanista, operário, pensador não é um estado exclusivo da esquerda.

Não há nada mais reaccionário no séc XXI que ser convencido que "liberdade" depende de quem eu próprio defino como sendo democrata ou não democrata.

Mario Fronteira

Anónimo disse...

Acho interessante que se discuta o Direito Natural e a relação com a Igreja Católica a propósito de um post sobre JPP. É profundo.
Só que para profundo, o que MSP nos diz parece-me muito... superficial. Esquece o novo advento do Direito Natural no pós segunda guerra mundial que nos trouxe coisas extraordináriascomo as declarações universais e regionais (temáticas e gerais) sobre direitos humanos. Esquece quase 2000 anos de discussão filosófica (e não apenas teológica). Esquece que os únicos regimes políticos que negam o Direito Natural são... autoritários. Esquece a diferença entre Direito Natural e Direito Divino. Esquece que numa demorcacia as igrejas têm o direito de participar no debate político. Mas é profundo!

Pinto de Sá disse...

Cara Joana,
O Facebook acaba de me trazer aqui, e não venho responder aos outros comentaristas, para começar porque tenho mais que fazer (sinceramente).
Mas gostava de lhe dar uma pista para aquilo que não compreende no JPP, porque eu partilho muito do ponto de vista dele, e também eu venho dos m-l, como sabe.
JPP não é crente. Como eu. Mas há duas ordens de razões para, hoje em dia, se poder apoiar a Igreja.
A primeira é da ordem da razão pura. O big-bang e a teoria das cordas puseram por terra a visão do eterno contínuo de Kant e Engels, pelo que hoje em dia não há oposição entre Física e Metafísica. Não digo que haja convergência; apenas que não há oposição. O mesmo se passa nos outros domínios das Ciências, até porque afinal o Homem Sapiens Sapiens sempre teve uma Eva e um Adão e um local concreto de aparecimento.
A segunda ordem de razões é do domínio da razão prática. Eu penso que a Humanidade tem já demasiado poder tecnológico para que possa sobreviver muito tempo se não aprender a dominar a sua natureza agressiva. E eu, que sou engenheiro e investigador, assumo o meu fascínio pela caixa de pandora, ou pela árvore do conhecimento, como queira.
Ora como não acredito no bom selvagem em nós - desde que eliminámos o Neanthertal até ao presente, tudo comprova que este selvagem tem pouco de bom - acredito que só pela educação os maus instintos podem ser controlador.
É aí que entram os mandamentos e o papel das religiões bondosas. O resto vem por corolário. É certo, a Igreja é pouco exemplar. Mas tal como não havia revolução sem Partido, também não há religião sem igreja...
E já agora: isto penso eu; mas o meu filho, que conhece bem a minha história pessoal e que cresceu a discutir isto, acha-me limitado. E até está a estudar teologia... :-)
Boa viagem, por esse Oriente!