É lançado no Porto, no próximo dia 19, um livro de Mário Brochado Coelho sobre a «Confronto», uma cooperativa que foi uma peça importante no puzzle da resistência à ditadura durante os seus últimos anos - sobretudo a Norte, mas não só.
Já conheço bem o texto porque vou dizer algumas palavras na sessão da sua apresentação e, também, porque o autor me deu o prazer (e sobretudo a honra…) de me pedir que escrevesse o Prefácio. Trata-se de um trabalho notável de pesquisa exaustiva de actividades, protagonistas e documentos, que permite a reconstituição de uma história e a preservação da memória - ou não estivéssemos a falar de Mário Brochado Coelho...
Passo-lhe a palavra:
Contrariando a nossa habitual tendência de «fazer história» com base num ponto de vista único centrado exclusivamente em Lisboa, procurei recuperar e dar a conhecer os principais traços do nascimento, actividade, encerramento e significado de uma instituição político-cultural do Porto denominada «Confronto, Cooperativa de Promoção Cultural, SCRL».
Tentei fazê-lo com o rigor possível e fugindo à forte subjectividade e emoção dos que – como eu – viveram intensamente o dia-a-dia desta cooperativa. O discurso tem, pois, um estilo enxuto.
Serão, porventura, muitos os que poderão encontrar neste trabalho algumas referências importantes sobre as suas vidas, a sua formação pessoal e os seus sonhos de um futuro melhor. Procurei retirar do silêncio iniciativas, pessoas, factos, indignações e resistências que marcaram de modo significativo a vida política de vários sectores da intelectualidade portuense e nortenha da segunda metade dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado (1966-1972) e que serviram de escola para variados e diferentes ramos de pensamento inovadores, alguns dos quais foram determinantes, por vezes, nas práticas política e social nacionais durante a(s) década(s) seguintes.
A Confronto foi um lugar de diálogo entre pessoas, ideias e grupos diferentes mas que se situavam dentro de um quadro mínimo de defesa dos direitos humanos e oposição política ao regime fascista de Salazar e Caetano. Colocou em «confronto» perspectivas diversas de intervenção cívica, ética e social, ensinando cada um a conhecer e respeitar as diferenças dos demais ao aprender a descobrir nelas todos os seus tesouros escondidos. Mostrou que a realidade é rica em diversidades e que ninguém é portador de uma qualquer verdade absoluta. Provou, por fim, que o ser humano é simultaneamente uno e complexo.
(N.B. - MÁRIO BROCHADO COELHO é autor das obras Em Defesa de Joaquim Pinto de Andrade, 1971, Porto, Edições Afrontamento; Uma Farsa Eleitoral – O Caso do Sindicato Metalúrgico de Aveiro, 1973, Porto, Edições Afrontamento; Lágrimas de Guerra (diário), 1987, Porto, Edições Afrontamento; Cinco Passos ao Sol (poesia), 1991, Porto, Edições Afrontamento; A Liberdade Sindical e o Quadro Estatutário das Associações Sindicais (separata), 2004, CEJ/IGT, Coimbra Editora.)
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