28.9.19

As campanhas servem para alguma coisa?



«Se o padrão se repetir, 80% dos eleitores já decidiram, por esta altura, o sentido do seu voto a 6 de outubro. Aliás, se se confirmar o que aconteceu nas últimas cinco legislativas, é expectável que cerca de 8% dos portugueses decida em quem vai votar ao longo da semana, 4% no sábado e uns surpreendentes 7,5% no próprio dia do voto.

Escrito assim, parece um determinismo exagerado, contudo é o que nos dizem os dados dos inquéritos pós-eleitorais que têm sido conduzidos pelo ICS desde 2002. É precisamente sobre este tema que trata o oportuno livro acabado de publicar de Marco Lisi, “Eleições — Campanhas Eleitorais e Decisão do Voto em Portugal”.

A grande inovação do livro de Marco Lisi está no facto de ir além da análise dos determinantes clássicos do voto (que explicam os 80% já decididos) para se concentrar nas margens de instabilidade eleitoral, nomeadamente no papel das campanhas e dos fatores que explicam o voto dos eleitores mais indecisos ou daqueles que mudam de sentido de voto de eleição para eleição. No fundo, é um livro sobre o que foi decidido na semana que terminou e o que falta apurar na que agora se inicia.

O tema é importante. As campanhas eleitorais são momentos únicos para um contacto menos intermediado entre os cidadãos e a política e a literatura dá conta de um progressivo enfraquecimento dos fatores de longo prazo na decisão do voto (os sociodemográficos e as predisposições políticas), acompanhado por uma relevância crescente dos fatores de curto prazo (o impacto da economia, o desempenho do governo e a avaliação dos líderes). E é nesta medida que as campanhas contam, resta saber de que modo.

Lisi concentra-se em dois grupos de eleitores, que são, aliás, em número crescente: os indecisos e os voláteis. Com uma análise sofisticada, deixa-nos conclusões importantes que ajudam a compreender o que ainda está em jogo nos próximos dias.

Ficamos a saber que, entre nós, os indecisos já não são os menos qualificados, mas, sim, tendencialmente, os jovens, aqueles que têm níveis de qualificação mais elevados e estão empregados. E, claro está, apresentam traços de desafeição e fraco interesse pela política. Já aqueles que mudam de voto entre eleições são relativamente indistintos sociodemograficamente e fazem-no mais por fatores conjunturais. Ao que acresce que a volatilidade é maior à esquerda do que à direita, já que, neste sector, a disponibilidade para ultrapassar a fronteira ideológica é menor.

O que nos devolve ao próximo fim de semana. Haverá 20% de eleitores que ainda não decidiram o seu voto e que, mesmo pouco mobilizados, são particularmente influenciados pela campanha. Um grupo de eleitores que, na hora do voto, tende a decidir com base nas lideranças e na avaliação da governação da legislatura. Desta feita, não será muito diferente.»

.

0 comments: