18.7.07

Padres e Bispos que enfrentaram a ditadura

Já foi publicado neste blogue (em 13/4/2007) um memorandum sobre este tema, elaborado por Nuno Teotónio Pereira e que tem sido objecto de muitas consultas.

Resolvi pô-lo agora no outro blogue -
Entre os textos da memória -, destinado precisamente a este tipo de documentos e que tem um formato mais apropriado para a respectiva leitura.

3 comments:

Anónimo disse...

Cara Joana

Permita que lhe confesse o meu sentimento – no mínimo de estranheza – relativamente a esta atitude de preocupação com a verdade, no que se refere a intervenção política da igreja no quadro do anterior regime, por parte de uma confessa ateia e laicista. – Claro que, de forma alguma, acharia mais coerente ou inteligente uma declaração de anti-clericalismo primário “à primeira república”.

Por outro lado, também não sou dado a “verdades de conveniência”, integradas em planos tácticos destinados a servir objectivos e interesses de ocasião.

Mas, mesmo assim, esta coisa da “verdade” não deixa de ser complicadota. Se não, vejamos:

1ª pergunta eventualmente impertinente: será que as pessoas referidas no memorandum de Nuno Teotónio Pereira intervieram no combate ao regime fazendo uso da sua condição de membros da igreja católica – e nesse caso haverá legitimidade para que a instituição reclame a sua memória – ou fizeram-no apenas na sua qualidade de simples cidadãos ?

2ª pergunta não menos eventualmente impertinente: será que a “verdade” não fica substancialmente reduzida – ou até mesmo pouco verdade – se quando se acentua o lado nobre da intervenção da igreja (?) se omite a outra metade da verdade: que eram também padres que abençoavam os barcos que saiam do Tejo carregados de soldados para a guerra colonial? Que benziam em todas as inaugurações as obras de fachada do regime? Que faziam coro com a doutrina do sistema, abençoando os pobrezinhos, esses “sortudos”, que logo à nascença tinham o reino dos céus assegurado?

Etc., etc., etc...

Não tenho a certeza que a verdade tenha apenas duas metades. Mas que, no caso em apreço – a atitude da igreja católica relativamente à ditadura – tem pelo menos duas ... lá isso tem ! – Razão porque, na minha modesta opinião, a invocação de uma delas não deva nunca ser feita omitindo a outra.

nelson

Joana Lopes disse...

Vamos a ver se nos entendemos:
- Eu limitei-me a divulgar (não agora, mas em Abril) um texto que NTP elaborou com a esperança de que alguém pegasse no assunto. Tentou aliás que eu o fizesse, investigando e escrevendo um livro, o que não fiz por falta de motivação. Isto talvez responda à primeira parte do seu «post».

- Quanto a verdades e metade delas, nada de sectarismos:o memorandum refere pessoas que foram vítimas do fascismo APESAR da Igreja e nunca ajudadas por ela. Qual o problema de algum estudioso evidenciar a sua acção?

Anónimo disse...

Não: lamento, mas pela minha parte ainda não nos entendemos. Pelo menos no que é essencial.

Sentir-me-ia sectário se reclamasse evidência e visibilidade apenas para uma das facetas do comportamento da igreja no que respeita a sua atitude relativamente ao anterior regime. Ora, aquilo que reclamo é precisamente que sejam mostradas as duas faces da moeda, de modo que uma não faça esquecer a existência da outra. E penso que, para o historial da instituição, deverá ser o balanço das duas que deverá contar. Sob pena de quem ler uns livros ficar convencido que a igreja na época, em Portugal, foi predominantemente progressista, e quem ler outros ficar convencido do contrário.

nelson