31.10.07

As galáxias da blogosfera


Foi da leitura de um texto de Miss Pearls que nasceu este post.

Mas, mais do que um café do fim do século XIX, a blogosfera lembra-me o Google Space. Cheio de astros isolados que ganham forma quando nos aproximamos, de constelações mais ou menos difusas que reconhecemos ou não, de manchas sem formas bem definidas que se mostram e se escondem.

Quem é só leitor e não também «dono» de blogues (o que era o meu caso até há meia dúzia de meses) não se apercebe da subtil complexidade das galáxias em que pairam e se movimentam autores, textos, fotografias, comentários, mails, links e sitemeters.

Talvez nem saiba que há constelações de primeira (as mesas VIP do café de Miss Pearls), que nem são, necessariamente, os mais frequentados mas que congregam, prioritariamente, quem nos entra pela casa dentro também pela televisão e pela imprensa e não só por um qualquer Bloglines. Nós conhecemo-los e eles conhecem-se – mas não nos conhecem e isso faz toda a diferença. Escrevem sobretudo uns para os outros (com mais ou menos salamaleques), o que se compreende. Só não gosto quando são arrogantes, o que é raro mas acontece. Há alguns meses, houve quem anunciasse que ia reorganizar os seus links e sugerisse aos simples mortais seus desconhecidos que deixassem na caixa de comentários os URL’s dos seus blogues para ele os visitar e decidir depois se «mereciam» (a expressão é minha, mas não a ideia) figurar no seu template. Dispenso-me de comentar.

No resto do firmamento que eu conheço e frequento (uma ínfima parte do universo), há exemplares para todos os gostos, desde os ferozmente militantes de causas várias aos intimistas, aos subtis e sibilinos, aos estudiosos, aos sempre-em-festa, aos deprimidos, aos que «linkam» por tudo e por nada, aos que não olham para o lado. Contribuem, cada um à sua maneira, para o nosso céu de cada noite.

E há também, qual estrela singular, o Abrupto. Que visito todos os dias, compulsivamente, embora receie ir encontrar a centésima fotografia de um banco no jardim de Santo Amaro. Goste-se ou não – e eu gosto –, é um astro absolutamente original na nossa Via Láctea.

Extragalácticos antes de começarmos, entramos sozinhos. Mas, a pouco e pouco, vamos construindo algumas teias e há outras que nos incluem. Passamos a reconhecer os estilos, habituamo-nos a prever opiniões e preferências, vamos adivinhando idades. As caras não fazem falta, mas é agradável se aparecem – quando, blogosfera adentro, saímos por uma porta e encontramos, no chamado mundo real, quem só conhecíamos pelo ecrã e pelo teclado.

Temos dias em que pensamos parar. Mas vamos voltando, adictos de um vício que, até prova em contrário, não parece provocar grandes danos colaterais. Num mundo onde se pode respirar – e, sobretudo, que nos diverte.


P.S. – Dos leitores que não têm blogues nem deixam comentários falarei mais tarde – é um outro universo, silencioso e cheio de mistérios.

5 comments:

Anónimo disse...

publiquei este post no meu blogue.
cumprimentos.
josé simões

Anónimo disse...

Sou leitor de blogues tal como o sou de jornais, revistas e livros. E quando o tema me suscita alguma opinião comento, da mesma forma que sublinho ou tomo notas à margem nos livros, ou recorto e guardo algum artigo de jornal.

Muito embora estes e outros paralelismos, penso todavia que a blogosfera é um espaço público de diálogo social qualitativamente novo, pelo menos em potencial. Surpreendendo-me por isso que, ao invés de produzir fenómenos também novos, no essencial reproduza os comportamentos que se geraram nos espaços públicos tradicionais.

Refiro a propósito, e a título de exemplo, o que se passa com o agudo sentimento de fidelidade que se verifica na frequência dos blogues. É-se fiel a um – ou a um conjunto de blogues – da mesma forma que se é fiel ao tal café, a um jornal, a uma marca de whisky, a um banco, a um bar, a uma discoteca.

Não deixa de ser surpreendente, mais evidente nuns blogues que noutros, a fidelidade com que permanecem, por vezes durante anos, os nomes dos mesmo comentadores.

Nunca vi este fenómeno comentado, mas gostaria de ver.

F. Penim Redondo disse...

Acho muito boa a tua analogia com o espaço sideral.

A minha própria experiência quando faço um post é similar ao envio daqueles engenhos destinados a percorrer o universo com a esperança de que, nalguma perdida galáxia, alguém os detecte e descodifique.

Confesso que o gozo está todo no acto de enviar.

Joana Lopes disse...

Nelson, quanto à fidelidade a um conjunto de blogues. Acho natural e quase inevitável, dado o seu número (sempre crescente, nem sei quantos há só em Portugal). Em todo o caso, de vez em quando, eu percorro listas de «posts mais recentes» e junto mais um blogue aos meus habituais. Ou então faço descobertas a partir de «links» de outros.
Procurar «ao clhas«? Não vejo a vantagem...

Joana Lopes disse...

Fernando, já tinha percebido. Por isso te digo às vezes que qualquer dia entras em órbita... Goza bem o Halloween ou o dia de todos os santos, como preferires.