26.4.08

A 26, em Caxias

ADENDA (*)
(**)

... evidentemente.
Longas horas de espera, os excessos sobrados da véspera, a indecisão quanto ao desfecho.

Na memória, ainda as imagens da força da rua, já misturadas com o sinistro cenário da Junta de Salvação Nacional e com os tumultos na António Maria Cardoso.

A ansiedade pela certeza de que o 25 só seria uma vitória se aquelas portas se abrissem. As notícias que iam chegando e que nem sempre eram boas.

Abriram-se, tarde na noite.


A imagem aqui ao lado entrou-nos pela casa dentro dezenas, centenas de vezes. Em tempos, tirei-a eu do filme «Caminhos da Liberdade». Gosto dela assim.

É a Mª da Conceição Moita, a mais antiga de todas as minhas amizades – desde os dez anos de idade, nos bancos da escola.

Saiu de Caxias nessa noite. Foi uma das últimas grandes vítimas da PIDE. E não só.


(*) «Puxei» para aqui o texto que a M. da Conceição Moita me deixou na Caixa de Comentários:

«Fui parar ao teu blog logo de manhã. Claro que me comovi. Tanta história!

Desse longo dia 26, lembro sobretudo a decisão dos presos: "ou saímos todos ou não sai ninguém". E das conversas com os advogados, sempre presentes. E da voz do "povo unido" lá fora.

Tanta memória!

Obrigada, Joana! Trinta e quatro anos depois, estamos com uma energia outra, atentas e bem vivas.»


(**) 28/4, 0:37
1- Alguém me disse ontem por mail que este post é «daqueles que marcam o que os blogues podem ter de próprio. Nunca seria publicado sob outra forma». Não posso estar mais de acordo. Também por isso, continuemos a andar por aqui.

2- São impressionantes – e raras nestas lides – a solidariedade e a comoção manifestadas na Caixa de Comentários. Curiosamente, quase a 100% no feminino.

18 comments:

Anónimo disse...

E eu conheci o irmão Luis em Caxias. Estivemos algum tempo na mesma cela. Um grande abraço Luis Moita.
José Casimiro

Joana Lopes disse...

Claro que também conheço muito bem o Luís, José Casimiro.

Shyznogud disse...

Era uma menininha de 7 anos nessa noite e ainda me lembro dos arrepios que a imagem da libertação dos presos políticos me provocou.

Anónimo disse...

Fui parar ao teu blog logo de manhã. Claro que me comovi. Tanta história!

Desse longo dia 26, lembro sobretudo a decisão dos presos: ou saímos todos ou não sai ninguém. E das conversas com os advogados, sempre presentes. E da voz do «povo unido» lá fora.

Tanta memória!

Obrigada, Joana! 34 anos depois, estamos com uma energia outra, atentas e bem vivas.

Joana Lopes disse...

Xexão,
Estive para te avisar de que ia pôr o «post». Resolvi não o fazer.
Nem sequer sabia se o verias, se estavas a vir aqui regularmente.

Ainda bem que gostaste. Comoveste-te? Também eu.

Joana Lopes disse...

Foram, de facto, imagens muito fortes, Shyz.
Para além da Xexão, eu tinha lá uma dezena de amigos, alguns dos quais (ela incluída) tinham sido vítimas recentes de torturas terríveis.

Anónimo disse...

Aos sete/oito anos decidi que um dia também eu haveria de ser presa pela PIDE. Aqueles homens e mulheres e aquelas celas faziam parte do meu imaginário.Tinha acabado de fazer dez anos quando eles atravessaram aqueles portões em direcção a mim.E como a Shiz, lembro-me dos arrepios.

Irene Flunser Pimentel disse...

Eu também me comovi muito com este post de um dia maravilhoso, em que tudo acontecia e estava para acontecer sem que acreditássemos. Lembro-me muito bem da saída dos irmãos Moita, amigos da minha tia Isabel, e das inenarráveis torturas a que eles e outros presos políticos foram sujeitos. Também me lembro das incompreensões de quem deveria ter percebido melhor o que era a PIDE/DGS e os seus métodos selvagens. Hoje já é tempo e só não compreende quem está de má fé ....ou totalmente fora da realidade.
Um beijo forte para ti Joana
Irene Pimentel

Joana Lopes disse...

Obrigada, Maria pelo seu testemunho.
Imagino que imagens dessas não desaparecem de quem as viu já com dez anos.

Joana Lopes disse...

Obrigada, Irene.

Nestes dias, ficamos um tanto sentimentais, mas ainda bem.

A Xexão gostará de ler o que aqui deixaste. Por várias razões.

Um grande abraço
Joana

Anónimo disse...

Nunca agradeceremos o suficiente aos mais velhos que tanto sofreram para que hoje sejamos livres.

Obrigada, Maria da Conceição.

Joana Lopes disse...

Teresa,
Os mais novos não têm nada que agradecer.
Agora é a vossa vez - mudança de turno.

Ana Matos Pires disse...

Obrigada, Joana, pela pele de galinha e pelo arrepio na espinha. Um beijo,
ana

Ps: a propósio de mais novos... ;-)

"Dia 25 de Abril de 1974, tinham 7 e 10 anos . Não foram à escola . Percebiam que algo de importante se estava a passar . Ambas se emocionaram bastante neste dia e nos que se seguiram . Passaram a brincar às Pides e às revoluções . Lembram-se muito bem , e ainda hoje nos contam , que fizeram uma manifestação contra o motorista do colégio ( que segundo dizem, era um « antipático » ) e que lhe furaram os pneus da camioneta . Foi importante há 34 anos , é importante agora ..."

Joana Lopes disse...

Ana,
Assumo que eram as duas manas que tinham 7 e 10 anos...

Um abraço

Anónimo disse...

Testemunhos deste tipo fazem mais pelo 25 de Abril do que dez discursos.

Joana Lopes disse...

Totalmente de acordo, M. José.

Shyznogud disse...

yep, eram as duas manas e aquilo era uma redacção da filha de uma inspirada nas "entrevistas feitas a familiares"(trabalho q lhe tinha sido pedido já não sei para que disciplina).

Joana Lopes disse...

Bem me parecia, Shyz.
Quem sai aos seus...