15.9.08

Um silêncio esquivo













O suplemento P2 do Público de hoje traz uma reportagem com testemunhos impressionantes de parentes de vítimas da Guerra Civil de Espanha, activamente empenhados na procura do que sobra dos corpos dos seus antepassados.

Em nome da chamado «Pacto de Silêncio», com que se pretendeu evitar reabrir feridas, não existiu em Espanha, durante mais de vinte e cinco anos de democracia, uma verdadeira investigação oficial do número de executados e de desaparecidos.

Mas há anos que historiadores e familiares arregaçaram as mangas, a Lei da Memória Histórica que entrou em vigor em Dezembro de 2007 veio ajudar e é do conhecimento geral a intervenção do juiz Baltasar Garzón no sentido de sentar o franquismo no banco dos réus. Hoje é toda a Espanha que está abalada pela descoberta progressiva da dimensão real da tragédia.

Um artigo publicado ontem em El País fala de tudo isto, mas de mais alguma coisa (também referida, de passagem, no P2): do medo que ainda persiste. Do medo latente que ainda «não descolou da pele» dos velhos que baixam inconscientemente a voz quando se referem aos acontecimentos, que está «incrustado na medula». Que serviu, durante décadas, como «filtro» que ocultou a história. Que espalhou um «silêncio esquivo» - que talvez agora, só agora, comece a desaparecer.

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