Li, mais ou menos distraidamente, um post que a M. João Pires publicou ontem no 5 Dias, tão óbvio me pareceu o conteúdo. Dizia, naquilo que interessa: «para mim prova de bom senso é levar a minha filha adolescente à ginecologista para que lhe seja receitada a pílula».
Alertada pela própria, fui ver o que se passava na Caixa de Comentários. No momento em que escrevo, estão lá quarenta e oito e o fim não parece à vista. Para todos os gostos? Sim, mas a grande maioria ataca ferozmente a inocente (julgava eu...) frase da João.
«Porque está a empurrar a adolescente para a prática (perigosa) do acto sexual sem preservativo?»
«A pobre criança ver-se-á aflita para não ter relações sexuais impingidas pela mãe.»
«Pode não ser sensível a valores como a fidelidade e o respeito pelo próprio corpo e pelo corpo do outro (isto é no fundo o que significa a abstinência) mas alguns jovens podem sê-lo.»
«Como dizem as adolescentes americanas que começam cedo: ”tanta coisa para ter umas cócegas no fundo da barriga”.»
Juro que tirei isto do 5 Dias e não de um discurso de Sarah Palin.
Muitos recusam-se ainda hoje a aceitar que o uso da pílula foi uma das grandes vitórias das mulheres – adolescentes incluídas, evidentemente – EM MEADOS DO SÉCULO XX! Porque é disso que se trata: tivesse a João dito que tinha comprado preservativos para o filho adolescente e ninguém teria reagido.
O resto é conversa.
13 comments:
Confesso que esperava alguma reacção "negativista" mas aquilo conseguiu surpreender-me.
(argh! "não se descriminalize o aborto, é preciso é investir na educação sexual", porque é q isto me terá vindo à cabeça?)
Também me surprendeu.
Quanto ao resto, acrescente-se «respeito pelos ritmos naturais de fertilidade da mulher» (Bento 16) casar para procriar (MFLeite) e vai tudo dar ao mesmo.
As tontinhas devemos ser nós.
Pena o louro não ser mais velho ou daqui a uns tempos eu escrevia um post a dizer q lhe tinha comprado preservativos e tirávamos a prova dos 9.
Foi precisamente por pensar no louro que acrescentei a última frase depois de ter publicado o post.
deixa lá, João, que não perdes pela demora...
Joana, sabes que eu quando referi a sarah palin no 5dias foi sobretudo por me ter lembrado da gravidez da sua filha adolescente. é que ela, a filha, deve fazer parte das estatísticas que indicam o falhanço das políticas de saúde públicas baseadas na abstinência da Era bush...
OK, dr maybee, claro que a filha da S. Palin não seguiu os conselhos da mãe - o que só mostra que é capaz de ser uma miúda mais ou menos normal.
(A propósito da SP: leiam uma frase do M.A.Pina, que pus hoje em destaque no canto superior direito.)
Valha-me a Nª Senhora da Muxima !!!
Aqui no terceiro mundo - Angola (que uma piedosa revisão semântica, por parte do primeiro mundo, permitiu que se passasse a chamar de "país em vias de desenvolvimento")- há muito que o preservativo, como forma de evitar a transmisão do virus da sida, mas também o uso da pílula, assim como outros métodos, para limitar o risco de gravidez não desejada, constituem prática banalizada. E objecto de continuadas campanhas de esclarecimento público, quer através dos meios de comunicação social, quer em sessões ao vivo, nas escolas, nos quartéis e no musseque.
Será que, Portugal, para além do petróleo e dos dólares que vão daqui não necessitará também de um pacotezinho educativo sobre sexualidade, made in Angola ? :-)
nelson anjos
Talvez, Nelson: «colonizem-nos» vocês agora.
a minha filha tem 14 anos e, sinceramente não tenho certeza alguma sobre nada. Na minha adolescência, acompanhei as minhas amigas que iniciaram a sua vida sexual extremamente cedo, 13, 14 anos, com muito disparate à mistura. Eu comecei mais tarde e mais tarde ainda a tomar a pílula e acho que fiz as coisas na altura certa. Se me perguntarem se ficava contente por saber que a minha filha tinha relações sexuais, mesmo protegidas, com a idade que tem, digo não, não ficava, e não me considero moralista, mas também não lhe fecho a porta e espero que ela confie em mim. O mesmo para os rapazes, mas com uma grande diferença, são as raparigas que engravidam.
Isabel,
Cada caso é um caso mas tendo a dar-lhe razão se começarmos a falar de idades. Não sei se 14 anos é sempre muito cedo mas, de um modo geral, talvez seja. Só tive um filho (não filhas) mas, se as tivesse tido, teria provavelmete uma reacção semelhante à sua.
Voltando ao caso que esteve na origem desta polémica: a filha da João tem mais uns anitos...
Isabel, não suporto "normatividades" e, como em tudo, cada caso é um caso e mesmo cada filho é um filho (tenho 2 e não lhes exigi/permiti fazer as mm coisas nas mms idades: ela teve a chave de casa mais cedo, começou a sair sozinha da escola mais cedo,etc etc... foi mais precoce na responsabilidade e teve, por isso, ganhos - eheh, ou perdas porq lhe foram exigidas mais coisas mais cedo tb. - secundários com isso.) mas se me é permitido um conselho, não force conversas mas mostre-lhe claramente q há abertura para ela a procurar qdo sentir necessidade.
e agora ocupámos o espaço da Joana, aqui em casa como o rapaz tem mais um ano que a rapariga, a rapariga faz tudo um ano mais cedo que o rapaz, porque acaba por o acompanhar. Até agora tudo corre muito bem com ambos e obviamente não forço nada nem com um nem com outro e vou confiando no meu instinto.
beijinhos para as duas
A casa é também vossa, Isabel e Shyz...
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